sábado, 14 de janeiro de 2012

Vontade de despejar o meu mundo num pedaço de papel...

Já me senti mais em casa almoçando numa tribo indígena no Panamá do que na minha própria casa...
As vezes sinto que não sou daqui, e não sou de canto algum. Tenho umas questões que me limitam e eu preciso seguir, mas tenho que me livrar de mim pra poder voltar a mim... Queria aprender física quântica um dia, para aprender a me integrar, conscientemente, ao todo infinito do qual faço parte.
É solitário viver assim, mas é também libertador. A gente vaga por todas as tribos sem pertencer a nenhuma delas...
De um tempo pra cá tenho sentido uma necessidade de reclusão. Passo uns dias sem sair de casa. Penso, leio, escrevo, falo sozinha, e às vezes faço absolutamente nada. Talvez seja isso o tal do ócio criativo, e é bom quando ele dá certo...
Mas escrever já é por sí uma prática meio solitária. Entre o ócio e a preguiça tenho idéias e invento uns casos que talvez não teriam me vindo à mente se o lápis não me puxasse os dedos. E quando gosto daquilo que escrevo é uma delícia!
Mas o que eu quero mesmo é sentir as alegrias essencias que já fizeram parte do meu dia-a-dia. Ultimamente só vejo graça no que mexe nas minhas lembranças. Sinto saudade dos mares e das montanhas do Hawaii. Eram intermináveis, e era incrível como a vista nunca alcançava o fim, era bonito e incomum de ver como essa paisagem tendia ao infinito... E quando eu voltava do trabalho, caminhava na estrada olhando as montanhas e imaginando o que podia existir por trás daquela paisagem. Na verdade eu sabia que haveria apenas uma outra montanha bem parecida com aquela que eu tava olhando, mas nunca, naqueles dias, aquilo me pareceu chato ou repetitivo. Muitas vezes eu ia só, outras a Mari me fazia companhia. A caminhada era longa e só terminava quando o sol se punha e não dava mais pra enxergar as cores e nem os detalhes das coisas, se viam apenas os contornos do início da noite.
Me lembrei de um dia maravilhoso que eu passei com o Phil, a gente foi numa cachoeira, subimos e descemos uns barrancos, era bonito como ao mesmo tempo que ele falava pouco, ele falava uma imensidão, mas os sentimentos e tudo o que é da alma aparecem escancarados, nas pausas das entrelinhas. Como diz a minha mãe "pra bom... meia".
Tenho tudo isso pregado na memória. A satisfação estava no percurso, eu sempre soube que alcançar um ponto só pra ver a vista do outro lado era só a motivação pra seguir esse caminho. Mas com o tempo meus caminhos foram se estendendo pra outros lugares, outras cidades, outros países...
E assim, soprada pelo vento, fui trazida de volta.
Olhando para trás percebo que se passou um bom tempo, e que já não penso como pensava, não enxergo nas coisas as mesmas coisas, tenho outros interesses, me enchi de responsabilidades intrasnferíveis, de limitações emocionais, compro umas coisas caras que não sei porque, me parecem imprescindíveis, desenvolvi umas manias esquisitas e agora me vejo numa situação que nunca busquei.
Espero que um dia lendo esses escritos, eu possa viver das possibilidades que eu sequer consigo enxergar, sendo guiada apenas por uma intuição...

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Semana passada estava no Rio e peguei um ônibus pra encontrar um amigo meu no Leblon, dentro do "ôns," conheci a Jaqueline. Se Deus existe, tenho certeza que foi o responsável por esse encontro casual. Jaqueline era uma menina tão simples que passava despercebida pela maioria; magrelinha, tinha cabelo ruim, pés descalços, mas sorria lindo e constantemente. Sentei ao seu lado e puxei assunto falando do céu, que parecia até de lantejoula, de tão estrelado que tava. No decorrer da conversa, percebi o quanto surgia a palavra “impressionante” no vocabulário dela. Na verdade, tudo dela era "impressionante". O meu jeito de falar e movimentar as mãos, o casal de velhinhos que passeavam de braços dados, os meninos tocando violão na calçada, as contradições do tempo, as criancinhas brincando. Fiquei encantada. Como pode num mundo tão cheio de gente triste e vazia, existir a Jaqueline que ainda vê tanta beleza na vida ein?
Ao mesmo tempo em que minha presença intimidava Jaqueline, eu sentia vergonha de mim diante de tamanha simplicidade e tamanho coração. E quer saber? Jaqueline não transpareceu, em momento algum, nenhuma expressão de infelicidade ou autopiedade. Ao contrário, ela me deixou claro, com aquele inesquecível brilho no olhar, que tinha a capacidade de tornar muito o que parecia tão pouco.
Fiquei pensando. Mas como? O pouco é quase-nada de qualquer jeito. Em qualquer lugar. Não para Jaqueline, que faz das pequenas coisas da vida preciosidades. E recorre a Deus pra dar sentido a tudo, independente do silêncio, ela ouve e muito bem com o coração. A vida, de trabalho duro e pouco estudo (o que definitivamente não mede a sua inteligência), deu à Jaqueline duas qualidades invejáveis: a simplicidade e a coragem de ser gente. Senti, várias vezes, que ela sentia um imenso orgulho ao falar de si mesma. Viajava na própria vida. E se admirava.
Então conclui que ninguém precisa ter uma vida perfeita para ser feliz. 
Afinal, o que é mais fundamental: TER ou SER? Acredito com muita exatidão que essa vida simples que Jaqueline leva, de comer  o que tiver e quando tiver e andar de pés descalços, é muito mais bonita do que a vida de muita gente por aí. Se pirei? Acho que não. São meus olhos que, enxergam de outra maneira.
E um jeito bonito de deixar a vida mais tranquila é olhar lentamente para si mesmo. Reconhecer-se pelo que é. Perdoar-se por não ter tudo que quer e por reclamar tanto do que tem. Com positividade o cotidiano instantaneamente vira poesia em vez de monotonia. Fica bonito e estimulante. Dando vontade de ser mais a cada novo dia. Às vezes deixamos coisas tão pequenas arruinarem o nosso bem estar... A falta de dinheiro (que conturba e uma infinidade de mentes e traz tanta infelicidade) as perdas e decepções. Veja bem: não estou querendo dizer que não precisamos de dinheiro, que decepções e perdas não doem, mas sim que a forma como enxergamos tanto os problemas, quanto a nós mesmos, quanto aos outros, quanto ao mundo influencia bastante o nosso interior.
Por isso aprendi um tanto de coisa com a Jaqueline. O quanto a vida pode melhorar se realmente quisermos que ela melhore. Porque nunca eu disse: NUNCA teremos tudo. Tudo é sem fim, tudo é muita coisa. Se devemos nos conformar? Não, o mais correto seria aceitar. A aceitação extrai angústias, medos, ressentimentos. Aceitar o que somos, o que temos, o que sonhamos, o que perdemos. Aceitar para compreender e fazer melhor a cada dia.
Vivemos numa era em que o perfeito é o belo, onde a ciência fala muito mais alto que a emoção e os holofotes e outdoors silenciam nossas opiniões. Mas do que adianta TER e não sentir nada ein? Do que adianta entender e não ver a beleza nas coisas sentimentalmente inexplicáveis como a Jaqueline? Pra que serve tanta superficialidade se por conseqüência dela a cada dia nos tornamos tão humanos quanto uma  porta? É, Jaqueline.. IMPRESSIONANTE é SER como você. Despreocupada. Descomplicada. Livre de agendas e manuais. Mais humana. Leve, simples. E feliz. Senti vontade de roubar seu coração, fragmentá-lo e doar um pedacinho de Jaqueline para cada pessoa desse mundo.