segunda-feira, 23 de abril de 2012

O meu sentimento por você não tem desejo de posse, e nem nunca teve.
É estranho ver, tanta vontade aceitando a grandeza do mundo. 
Não quero amarrar você em mim.
Não quero despermitir. 
Quero essa estória assim, desse jeito, feita de vôos, meios de, desde o início, já era isso. 
Fazer o peso ser leve. 
Só não se esqueça de abrir a janela. 
Eu continuo aqui fora. 
Não sei por quanto tempo. Não importa. Mesmo. 
Enquanto houver sentimento, vou olhar daqui de fora pra sua janela. 
E, de tempos em tempos, vou sair pra ver o mar.

sábado, 14 de abril de 2012

Num domingo muito cedo.
Cedo demais até. 
Horários comuns que não acompanhavam um organismo boêmio por determinação.
E uma vida que não acompanhava uma rotina por determinação.
Não aceitava um futuro onde  precisaria escolher qual a melhor propaganda para um negócio qualquer.
O mundo é muito mais que muros...
E eu me recuso a viver presa aqui.
Pensamentos esperando para serem redigidos há tempos, sem encontrar espaço para se expressar. Ouvi dizer que os escritores não pensam melhor do que outras pessoas, apenas relembram tudo o que divagam quando pegam a caneta. Sendo assim, não me incluo nesse meio, fico só tecendo as opiniões mesmo...
Embora eu saiba que tudo que vaga pode encontrar um ponto qualquer...
Lembranças das andanças pela África...
Hoje quando peguei o ônibus para voltar para casa estava sozinha, num banco daqueles de dois, tentava controlar meu cansaço, minha recente falta de paciência com o mundo. Estava ouvindo música de olhos fechados quando senti alguém sentar ao meu lado. Era uma mulher com o sorriso mais bonito que eu já vi. No colo uma criança e ao lado, em pé, estava o marido com outra criança também pequena. Levantei e ofereci meu lugar para ele e a garotinha que ele segurava sentarem.
Eu prestava atenção no casal. Ele tratando ela tão bem, mesmo com as derrotas que pareciam estampadas no rosto dos dois. Segurando suas crianças como se isso fosse protegê-las de todo o mal.
Uma senhora entrou. Equilibrava sacolas e a sombrinha. Um menino, de aparência bem humilde levantou para que ela se sentasse. O motorista ia andando com cuidado, passando devagar pelas poças deixadas pela chuva da tarde e as pessoas relatavam os próprios problemas com bastante humor.
Comecei a pensar na burrice que era me incomodar com coisas tão pequenas. E em pouco tempo tudo pareceu tão calmo, tão simples, tão fácil de levar. Essa humanidade que temos é o que ainda nos salva de nós mesmos. Atos pequenos, que nos são quase indiferentes e que podem mudar uma hora na vida de alguém.
Eu passei tanto tempo procurando alguém em quem colocar a culpa pelas minhas frustrações e, naquela meia hora, consegui consertar tudo dentro de mim mesma. Não eram os outros, eu estava quebrada.
É muito mais eficaz resistir quando a alma, o espírito e, principalmente, o coração estão em paz. É muito mais motivador lutar quando temos alguém para assegurar.
Caminhei devagar até em casa, sentindo que não queria o fim da noite. Sentindo saudades.
Gosto daqueles que sempre tem histórias absurdas para contar, dos que sabem o que é pecado porque experimentaram e não porque leram na bíblia. 
A teoria enfraquece qualquer experiência, adianta as expectativas, os possíveis sentimentos e, assim, os torna esperados. 
Só o absurdo causa impacto e só o impacto me deixa viva. 
Gosto de provocações, gosto dos perigos, quando trazem alguma satisfação real. 
Jogos desnecessários me entediam, rápido, muito rápido. 
Não gosto de respeito por obrigação.  
Gosto dos que criticam porque entendem do que falam, não porque compraram uma opinião, e não porque ganharam um conceito pronto, embrulhado de presente.


terça-feira, 10 de abril de 2012

Do que é feita a eternidade?
Poucos minutos que me consomem,
tempo que demora passar
e saudade daquilo que ficou.

Pequena morte.

Todos os dias eu morro um pouquinho só para dar lugar à novas esperanças.
Meu morrer é uma forma de enterrar os sonhos velhos, já desgastados pelas tentativas inúteis de se tornarem reais. 
Estranho é perceber que na mesma terra onde enterro meus devaneios brotam novas vontades. 
Sou eu querendo de novo, brincando com a vida.
Nesse cíclo de vida e morte, aos sonhos, atribuo o nome de conquista, realização e felicidade.
Aos sonhos que se perderam para sempre, pura ilusão.
Há quem prefira se agarrar ao último suspiro, mas eu não. 
Eu preciso respirar o acontecer, porque sei que ele não se encontra nos desejos desfalecidos.

domingo, 8 de abril de 2012

EXPERIÊNCIAS ANTROPOLÓGICAS

"Atualmente participo de um estágio na APAC (Associação de Proteção e Assistência ao Condenado) onde atendo um recuperando. Para quem não sabe a APAC é uma Entidade Civil de Direito Privado atuante nos presídios, que tem como metodologia a valorização humana e que visa oferecer ao condenado formas de se recuperar e retornar à vida social. O meu trabalho lá é de construir, junto com o recuperando que atendo, um livro que conte um pouco de sua história de vida.
Hoje, depois da profunda experiência que tive ao atendê-lo, sai desnorteada da sala onde tudo acontecera. É tudo muito intenso, muito real. Difícil mesmo de engolir. Milhões de pensamentos começaram a brotar na minha cabeça e aqui desejo transformá-los em palavras, texto e reflexão.
A sociedade vende o preso como um monstro. Mentira. Eles são como nós, eles fazem parte de nós. Nós somos eles, mas como nascemos em contextos diferentes, não ficamos sujeitos à mesma realidade. A verdade é que o ser-humano, em sua grande parte, é um ser fraco. Ele cede às tentações, ele cede às incertezas, ao medo que a realidade passa. Por isso, reage do jeito que dá.
Ao sair da sala, fiquei esperando a minha companheira de estágio para irmos embora juntas. Resolvi aguardá-la na recepção onde não tinha ninguém e onde eu permaneceria presa. Trancada. Olhando através das grades da Apac fiquei tentando imaginar a sensação de se estar preso. Obviamente que o que eu senti naquele momento não se compara a uma real experiência, mas ao pensar nisso, só consegui encontrar em mim uma angústia gigantesca. Angústia de animal castrado, preso, recluso. Pensei no que a liberdade representa. Ser livre é a melhor coisa do mundo, acho que esta é a palavra mais bela que já ouvi. Ela não implica em fazer o que quiser, mas implica ser o que quiser, sentir o que quiser, respirar fundo e apreender o nosso eu interior. Eu mirava do portão a paisagem que se encontra em frente ao prédio e só pensava como queria poder ir ali, até ali que fosse. Mas ir se quisesse. Isso é ser livre, palavra e poesia ao mesmo tempo. Eu amo a liberdade.
Refleti então sobre a ideia de que quem faz algo para ser preso é punido, principalmente, através da perda da liberdade. Perde o respeito da sociedade, vira um estereótipo e muitas vezes não é aceito de volta. Corrijo, nunca é aceito de volta. Ninguém lembra que aquele ser vivo, da nossa espécie, que sente igual a gente, que pagou pelo que fez em condições sub humanas tem o direito de voltar para a vida social. Ninguém se lembra disso, nem o governo, muitos menos os cidadãos ocupados em cuidar do próprio umbigo e da própria carteira. É muito mais fácil unir essas pessoas marginalizadas às categorias da nossa cognição que eliminam os mesmos das nossas preocupações.
Vale a pena? Esse tipo de punição funciona? Porque até onde eu sei, no Brasil ele não muda nada. Ele ensina os condenados a odiar mais o mundo e a resolver as coisas do jeito que eles sabem. O sistema é tão precário que chega a ser ridículo, “dá raiva” mesmo. O resultado é
uma experiência mágica que cria dragões, feras e monstros. Porque não tem jeito, quero ver se fosse com você, ou comigo.
Não estou negando os crimes cometidos, muito menos os aprovando. Mas uma vez li que quando não é possível mudar a situação em si é possível ainda mudar a nossa posição diante dela. Nós como sociedade estamos proporcionando o melhor para formar cidadãos honestos que busquem meios legais de viver? Acho que essa pergunta nem precisa de resposta. Está óbvio, cidadão brasileiro, que não! E disso ninguém lembra na hora de julgar o criminoso. Não podemos controlar o comportamento, nem os pensamentos que tomam cada um dos homens e mulheres todos os dias. Mas, podemos mudar o jeito que o mundo é construído. Ou vocês acham que do jeito que as coisas andam está funcionando? A mudança deve começar por aí.
Foi isso que senti hoje ao ir a APAC e conhecer mais um pouquinho dos tantos pouquinhos da vida que não conheço, e que unidos transformam-se no mundo todo. 
Vale a pena pensar, repensar, criticar e mudar!"

por Déborah Rocha.