sábado, 1 de julho de 2017

Hoje subi o serrano cedinho, fui subindo, subindo pelo parque da muritiba...Vi Lençóis lá em baixo, calma e solitária, acordando neste sábado de céu limpo e azul. Vi o silêncio. Vi a paisagem que costuma me trazer o conforto espiritual. O cerrado, o friozinho do início da manhã e os campos desenhando a linha do horizonte... Me senti bem por estar aqui e agora... 
Uma meditação de corpo e alma.
Esse andar pela chapada, é uma investigação curiosa, os percursos criam paisagens e a busca por paisagens criam narrativas particulares... são tantos os mistérios...
penso que é esse caminhar que conforta a vida,
e que a vida é uma paisagem que a gente cruza, no vento, no tempo, nos rastros que ficam no chão...
essas trilhas existem porque só os destinos não bastam, é preciso andar, andar e andar se quiser encontrar abrigo, segurança e afeto, a vida é paisagem, e paisagem é uma miragem que a gente pode tocar os pés descalços no chão...
quando olho pra essa cachoeira só consigo pensar que convivo com esta inevitável sensação que existe algo maior do outro lado de cá... as águas vão indo para os vales das montanhas e descem fazendo música no silêncio da paisagem encoberta.

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Pra quem tá querendo saber, vim contar as novidades! Hoje, faz exatamente um mês que eu me mudei pra Lençóis, na Chapada Diamantina... eu passei no concurso de cartório aqui da Bahia e já tava decidida a largar tudo e ir para onde eu “tivesse” que ir, qualquer comarca... mas nem nos meus sonhos mais lindos eu pensei que ficaria num lugar tão maravilhoso... sinto como se eu fosse daqui e sempre tivesse vivido aqui... 
Viver perto da natureza é a melhor coisa que eu pude fazer por mim até hoje... Me sinto livre, iluminada e muito mais consciente do que realmente é importante para viver...
A minha vida agora foge totalmente da realidade urbana e exaustiva que eu tinha em BH.... aqui eu tenho acesso ao que é realmente um luxo, que é viver ao ar livre, sem a violência das cidades, a comida que vem de hortas saudáveis, frutas frescas, água pura e cristalina, tomar banho de rio todo dia, sol todo dia....
A dependência exagerada do dinheiro sempre foi uma pedra no meu sapato. O lance de trabalhar pra pagar contas, trabalhar mais porque as contas aumentaram, ganhar mais porque precisa-se de mais e precisar custa caro, sempre foi pra mim como correr atrás do próprio rabo. Hoje, mesmo tendo um cargo publico, um bom salário, e estabilidade, o dinheiro já não é tão importante... e nem faz tanta diferença... Tô me acostumando a não me preocupar mais com o preço e sim com o valor que as coisas tem... Tenho plena consciência de que este é um caminho longo, mas sem a pedra no sapato fica mais fácil caminhar.
Ainda tudo novidade, mas sempre carregada da certeza da minha escolha, parece que sempre pertenci a essa vida e a esse lugar... As mudanças vêm vindo com calma e respeitando o meu tempo de adaptação, esse processo tem sido uma delícia para mim. E por falar nisso, muita gente tem me feito perguntas sobre algumas coisinhas dessa mudança, respondo algumas delas nesse textinho e agradeço pelas mensagens lindas que tenho recebido!
A vida sempre me presenteou com gente linda enfeitando todos os cantos pelos quais passei! É como se nesse processo doido de preencher as linhas do caderno em branco que nasci fosse encontrando palavras e desenhos que se encaixam e vão construindo a minha história. Muitas delas me deram conforto, interrogações, alegria, amor. Outras ainda moram em mim pelo incômodo, pela forma como foram espelho e me fizeram descobrir coisas escondidas. Na intensa missão de não ser uma ilha, é válido levar na mala uma dose de atenção e coragem para entender como, quando e porque as pessoas me completam.
Outra coisa que eu peguei gosto aqui foi plantar e entender essa combinação da natureza e o tempo Rei transformando aquela semente minúscula numa planta imensa e cheia de vida...
No meu cartório, sim, agora ele é meu... as pessoas não são mais um número, cada pessoa é realmente uma pessoa;e eu posso dizer que eu sei o que cada uma delas foi fazer ali naquele lugar burocrático... outro dia fiz uma certidão de nascimento para uma senhora de quase 70 anos... é muito louco pensar que tem tanta gente que não sabe nem o dia do próprio aniversário, mas que sabe tanto, tanto e tanto de várias outras coisas que são bem mais importantes.... 
A vida por aqui traz exercícios diários de adaptação e, confesso orgulhosa, que estou me saindo muito bem em vários deles. Coisas simples como separar e reaproveitar o lixo, trocar detergente por sabão de coco, cuidar das plantas, tem sido uma delícia e uma pergunta: porque eu não fazía isso antes?
O conflito continua igual: o corpo querendo voar mundo afora e o coração sem sair do lado de quem se ama e quer bem.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Sobre a sorte.
Ela foi "premiada" com uma doença rara... 
e ela gastou quase 30 anos pra entender que foi marcada pela vida de um jeito especial porque a vida não podia perdê-la de vista... 
são essas coisas loucas que ninguém nunca tinha conseguido explicar pra ela...  
até que de repente tudo começou a fazer sentido... 
e ela começou a entender como era o tal do lance da sorte...
sorte mesmo era muito mais do que estar no lugar certo e na hora certa.
sorte era quando ela acreditava que o poder de realização é o que ia leva- lá até lá...
e ai quanto mais ela estudava mais sorte ela tinha...
ela entendeu que sorte era saber escolher com o coração.
sorte era seguir aquele impulso do fundo da alma.
sorte era ser grata por todos os momentos... 
sorte era saber tirar proveito até dos momentos ruins...
sorte mesmo é estar viva nesse mundão de possibilidades e estar aberta para as experiencias e as entregas de cada uma delas...
sorte era experimentar desse milagre lindo que é a vida!
e esse dia ela concluiu uma coisa: ela tinha sorte pra caralho!!!

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Sonha com um mundo que ainda não existe.
Seria capaz de viver nos sonhos e construir a sua vida neles.
E na verdade, constrói.
Tudo em volta dela é um sonho. Tudo em volta dela é algo tão visível mas que ninguém consegue ver.
Só ela consegue ver. Só ela enxerga as coisas que ninguém mais enxerga.
Essas coisas estão dentro dela, dentro dos tesouros perdidos num naufrágio submerso, e não nas coisas que você acredita que estão na superfície...
Sobre ser virginiana da cabeça aos pés.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Tenho andado muito ansiosa, stressada, pra ser sincera, eu tô é triste mesmo!
Ai hoje eu tava no busão, e quando dei por mim... tava chorando...sem querer chorar, porque eu sou dessas que chora escondida, porque ninguém nesse mundo é obrigado a ver os outros chorarem. Mas meu rosto era só lágrimas e eu chorava tanto que o meu nariz até começou a escorrer... 
Nisso, tinha uma criança na minha frente falando com a mãe 'mãe, por favor, é rapidinho", até que a mãe respondeu, "tá bom, Gabriela, pode ir, mas se ela não quiser falar você volta, senta aqui e fica quieta. Ai a menininha foi até a mim e me perguntou pq q eu tava chorando e eu respondi que não era nada não, que eu só tava era triste mesmo! Ai ela olhou pra mim toda lindinha com um sorrisão no rosto e falou, "moça, eu posso te dar um abraço? É que a minha mãe me disse que nós mulheres devemos cuidar umas das outras."
Ela fez do meu dia triste um dos dias mais bonitos da vida!!!
Cuidemos uns dos outros!!!

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Silogismo.

Se a gente é o que a gente come

quem não come nada some
por isso que ninguém enxerga toda essa gente que passa fome.


segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Hoje fiquei refletindo muito sobre essa coisa do "dia das mães", pensei muito sobre ser vó, ser mãe e ser filha, sobre sair da barriga da mãe e vir parar nesse mundo doido. E hoje quando eu tava sentada no alpendre la da casa da minha vó, com a família toda reunida, a vó, a mãe e o pai, os tios, os primos... me deu um aperto, uma tristeza, uma saudade docê, vô. Mas o legado que o senhor deixou, essa coisa do bom humor, eh um gene que tá no dna da família toda, um trem difícil de explicar... Esses "tiagos" são mesmo muito engraçados! Hoje eu fiquei só rachando na cozinha, escutando aquela "boberada" como dizia o senhor... E eu mesma, vô, sempre tento manter meu bom humor. Tento rir de mim sempre. Mas no mais, as coisas parecem bem. A vó tá linda, alegre daquele mesmo jeito, nem parece ter a idade que tem, a gente conversa muito, e ela fala que queria muito ter minha idade com a experiência que ela tem hoje, outro dia ela tava falando que nunca te esquece, nem um dia sequer, que quando ela vê ela tá gritando "ôoo tiagoo"... Vô, você é o homem que foi, mas que ficou, cê sabe como?
Saudade dos nossos papos, vô. Queria poder te contar um pouco de tudo que tenho vivido nesse era de aquarius. Você não acreditaria, é muita internet, muita rede, pouco laço. Mas hoje, mais do nunca fiquei lembrando muito do senhor e te vendo em todas as partes daquela casa, com saudade das suas brincadeiras que vinham até nas horas que eram tristes, saudade das suas histórias e das suas piadinhas. Acho que o tal "dia das mães" é todo dia, então hoje minha homenagem é proce, vô tiago.
Vô, você é o maior homem que esse mundo já conheceu. Obrigada por ter constituido toda essa sua essência em nós.
A saudade é gigante, mas sinto que você tá sempre por perto, em cada piadinha que eu faço e em cada risada que eu dou. A sua leveza é minha maior inspiração. E se eu conseguir viver a vida com a metade do seu riso e do seu bom humor já sou inteira gargalhada!

Um beijo, um abraço, uma alegria.

sábado, 8 de março de 2014

Se faz sentir, faz sentido.

preencher o tempo de sentido
e o sentido é construído por si
mas só faz sentido mesmo
quando acontece o encontro
consigo
com outro
com o mundo
pois só faz sentido mesmo
se faz sentir.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Silvia filha sou eu. Silvia mãe é você. Silvia somos nós duas. 
A Silvia filha se sentia como se ela não estivesse mais naquela pele, pele que se renovava a cada dia, junto com a alma, pela pele. 
E o que isso importa? 
Tudo importa. Todos se importam.
A Silvia mãe estava lá, na cama do hospital e estava em todos os lugares, estava aqui em casa, estava no escritório, estava no fórum, no tribunal, estava em mim todos esses dias.
Silvia e a janela, a rua, um vestígio, um tempo...
Silvia filha vestida pela pele, pele marcada, pele sofrida, pele vestida de ciência, de cuidados, de orações, de nada, de saudade de Silvia mãe saudável tocando asa branca no acórdeon e naquela correria do dia a dia... 

Silvia filha não sabe rezar como a Silvia mãe, mas Silvia filha aprendeu com a Silvia mãe que reconhecer a beleza da vida é um jeito de rezar.  
Silvia filha vestida de medo adiantado do que ainda podia vir.
Silvia filha insegura, atravessando a porta e só querendo o mundo, e os lugares que queria ir na companhia de Silvia mãe algum dia...
Silvia e a imensidão.
Silvia e a volta, Silvia e a vinda, Silvia e a VIDA.
Silvia ainda...
Silvia estava no silêncio.
Silvia é Sílvia mesmo dormindo.
Silvia mãe é a voz. Sua voz em mim, apertando a minha mão como quem só queria dizer que ia ficar tudo bem... que ia dar tudo certo... A Silvia mãe sabe das coisas, ela sabe mesmo de todas as coisas...
Silvia mãe habita o coração de tantos... de todos que a conhecem e até daqueles que nem a conhecem, mas que já ouviram falar dela por ai...
Silvia omite, Silvia cala.
Silvia não é Silvia quando se cala.
Silvia filha, o disfarce, a melancolia, a tensão, o medo.
Silvia filha e a Silvia mãe que tudo habita.
Silvia e o corpo - complexo enigma.
Silvia filha e as lembranças lembradas, Silvia e o sufoco.
Silvia filha e a vida, Silvia filha e o medo da morte.
Silvia filha e o pai sentado na cabeceira da mesa com os olhinhos meio marejados por detrás dos óculos...
Silvia mãe e os olhinhos cansados, Silvia mãe e os sonhos.
Silvia filha não estava aqui quando acordava.
Silvia filha e a calma, ou Silvia e a urgência.
Silvia filha veloz, Silvia filha percorria as cidades, os países, os continentes, as nuvens...
Silvia filha, e as vontades que ficaram por dizer, Silvia filha e as atitudes que não tinha coragem de tomar...
Silvia filha e as dúvidas, o futuro incerto, e a opção pelo sim.
Silvia mãe, e a alegria, a alergia, Silvia filha sozinha com tanta gente por perto tendo que se ver com a própria questão.
Silvia filha e o medo da solidão.
Silvia mãe, o "x" da questão, a resposta certa para tantas dúvidas.
Silvia mãe estava aqui, estava no hospital e em todos os lugares.
Silvia mãe e a serenidade, Silvia filha e o grito mudo.
Silvia mãe e a força, a paciência.
Para a paciência, Silvia filha dedica a vida.
Silvia mãe está aqui! Silvia mãe e Silvia filha, as Silvias estão agora vestidas pela cura.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Penso tanto, que as vezes nem cabe na fala. 
A vida sempre me diz “Não vem tentar me controlar”, mas eu finjo que não escuto. Eu já sei, já entendi que o que ela quer de mim é coragem. E ai eu finjo que sou corajosa. E finjo tanto e tão bem, que ela bobinha até acredita.
O sofrimento se dilui
a dor se transforma em água que escorre pelos olhos
e o tempo trata de transforma-la em memória

O que parecia sólido cresce, se transformado em sólidão

E aquilo que havia se tornado líquido, não se perde por ai, vira memória na mente, cicatriz no corpo, calma na alma

O presente vira descoberta

É primavera,  e as flores que foram sementes outrora, agora caem sem nem avisar

E daqui a pouco, eu vou passar, catando as pétalas que se entornaram por ai

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Da janela

Da janela do carro, vejo várias vidas que fico imaginando como são... 
Invento pra elas nomes e acasos. O som do carro faz a trilha sonora dos filmes que crio na minha cabeça, com uma profusão de personagens... 

Da janela do quarto, entra em mim a ilusão da segurança, encontrando as portas abertas. Pela fresta entra um resto de medo e deixo que escapem alguns sonhos.

Do alto do prédio do escritório, minha janela se transforma num observatório de formigas. 



Da janelinha do avião, anseio pela aterrissagem enquanto atravesso o mar de algodão. 

Nos quadradinhos do trem, a velocidade pinta quadros da cor da paisagem.

Dos meus olhos, janela de mim, vejo um mundo só meu. De vez em quando encontro outras janelas que só veem a mim. Uma janela contempla a outra e dali podem surgir relatos, abraços e até algum convite. Curiosa sobre as outras janelas, as minhas janelas estão quase sempre enganadas.

Janela para a rua. Para a casa do vizinho. Para a alma de um amigo. Para emoldurar a vida.
Janela de criar. Câmera que não enquadra: os objetos é que escolhem como é que irão se enquadrar. 
Janela de sonhar. Ou de jogar os sonhos pela janela?

Mudo de paisagem constantemente, mas não me contento com nenhuma delas. No computador, abre-se a janela para um mundo sem fim. Um país de maravilhas que nos aprisiona angustiados como o coelho da Alice, sempre atrasado. Fecho o facebook, cansada, para finalmente enxergar a simples janela de abrir.

Da janela pra fora, desejo de liberdade. Da janela pra dentro, a história da alma.

As  janelas viram portas. Entro sem bater para ver o que há.

Observo a janela do outro, que me atiça a curiosidade. 

A vida é uma sequência de janelas e portas,  sonho e realidade.

Criar novas janelas, emoldurar outras cenas, colocar os sonhos em janelas. 

Para que essa vida, parede branca, tenha sempre novos quadros para serem contemplados.

Pedido ao Tempo

Tudo o que te peço, Tempo, é que me salve dessa entrega absurda de ir até o outro a ponto de me largar de mim. 
O que te peço, Tempo, é só o caminho do meio. 
É que me ensine a ter paciência para aprender e receber antes de me entregar. 
A ver além... 
A enxergar lá atrás do morro... 
Peço que me devolva a mim... 
Peço que eu saiba me reconhecer.
Que eu saiba cuidar somente daquilo que me pertença. 
E deixe ir... 
E deixe vir... 
Natural, inteira e leve...
Que a vida me encontre distraída, sem a ânsia de buscar aquilo que nem sei se quero, o que não vale, e o que não é. 
O que te peço, Tempo, é a aceitação do tempo e da vida como ela é. 
Sei que ela me espera inteira. 
Mostre a ela o caminho até mim. 
Enquanto isso, vou esperar em paz até que a verdade me alcance como num abraçaço bem forte. 
Tire de mim essa ânsia de ser feliz e inverta a ordem natural das coisas. 
Assopre no ouvido da felicidade a hora de me achar, sem volta. 
Que eu apenas contemple. 
E que eu consiga resistir à tentação de correr para o que ainda não está pronto pra mim. 
Que eu me apronte para a surpresa de um dia qualquer. 
Que eu acorde como quem nasce. 
Que seja assim... 
E que assim seja.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Eles ainda estavam deitados quando ela começou a chorar calada. Ele não viu, até porque ela jamais choraria na frente dele. As lágrimas escorriam devagar e silenciosas até atingirem o travesseiro. Ela teve o cuidado de sair do peito dele antes que o choro o molhasse.

Aquela tristeza estava presa na garganta já fazia tempo. Mas naquela noite ela se viu obrigada a libertar o que estava entalado. Os sentimentos não deixaram outra saída.

Ele estava falando algo, mas ela não conseguia prestar atenção. Estava mergulhada em outros pensamentos, na culpa que estar com ele a fazia sentir.

A verdade é que estar ali era humilhante. Bastava um comando dele e ela obedecia. Bastava uma mensagem e ela saía de qualquer lugar onde estivesse para encontrá-lo. Ela chegou a confundir com amor, mas era outra coisa. A carência a fez se apegar à ele e a fez acreditar que tinham algo bonito, ou que um dia pudesse vir a ter...

- Preciso ir. Ela disse.

- Mas já? Ainda é cedo.
- Tenho reunião amanhã de manhã... - mentiu.

Ele a acompanhou até a porta do carro e deu um beijo de despedida sem nenhum sentimento. Para ela, isso era o pior, o mais triste. O que a destruía, mas sempre a fazia voltar, na esperança de que, de repente, algo pudesse mudar. Mas não mudava.

Foi para casa... Queria dormir, mas só conseguia chorar o acúmulo de dor dos últimos tempos... Encharcou o travesseiro e deixou o rímel escorrer até não sobrar mais nada.

Foi ver que horas eram no celular e só então viu uma mensagem dele. "Eu adoro estar com você, mas hoje você parecia meio distante. Tá tudo bem? Espero que sim. Se cuida, linda".

 
Não queria se cuidar. Queria que ele a cuidasse. Queria aquele cuidado que não temos como oferecer a nós mesmos.

Desligou o celular e acabou esquecendo de ver o relógio. Não chorou mais.

 
O tempo passou...
 
E sabe que, ela lembrou dele e, quer saber? Não doeu nem um pouquinho.
O tempo passou. E ele também passou junto com o tempo. Ele virou só mais um rosto,  e o coração dela ficou leve. Ele o deixava pesado demais. Ele não aguentava mais, apesar de querer. E como foi bom ele ter, finalmente, entendido que não precisava mais de carrega-lo como um fardo.

Na verdade, o coração sentiu a falta dele todo os dias, todas as noites. O vazio que ficou no lugar dele era imenso. Porém, necessário. Foi difícil ficar sem saber dele, dos seus dias, do que ele iria fazer no final de semana.


O coração sofreu com a saudade. Sofreu por mais um tempo, não ia mentir. E então, passado tudo isso, de repente ele parou de sentir. Se acostumou com a ausência dele  até que o vazio parou de incomodar.
Como tudo na vida, ele também passou. Como aquele medo de fantasmas que um dia fica para trás.

A indiferença veio como um anjo da guarda para trazer a paz que ela tanto precisava. E, graças a ela, não saber dele se tornou natural. Assim como ela não sabia se existia vida em outros planetas. Não é algo que tirava o sono dela, que perturbava...

Era só mais uma pergunta que, para ser bem sincera, ela nem fazia questão de saber...

Não saber como ele está, na verdade, não importa mais.

O que ela sabia hoje, era só dela. 

 
E ela estava bem.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

AINDA BEM QUE EU TENHO SETE VIDAS


Rasgue a venda

Estava tudo bem. 
Eram aqueles pensamentos fora de órbita que vez ou outra tentavam perturba-la.
Da sua força, só ela sabia.
Hoje ela se olhou no espelho como se fosse a primeira vez e esqueceu todos os defeitos que certa vez tinha se atribuido. 

Deixou pra lá todos os conceitos que tinha de sí. 
Foi bom se permitir esse encontro. 
Os olhos dela estavam vendados. 

Então rasgue essa porra dessa venda! Não posso fazer isso por você. Não posso entrar na sua cabeça e te fazer perceber que o que você pensa tá tudo errado. 

Acho que, lá no fundo, ela sabia disso. Só não conseguia acreditar.
A verdade, é que ela não era perfeita e nem precisava ser. 
Cair, errar, normal. Aceita que nem sempre você vai acertar. 
E aprenda a enxergar que isso não quer dizer que você não é boa o suficiente. 
Isso é apenas a vida sendo vivida. 

A falha dela não era falta de amor. Era o excesso dele. 

A falta de sentimento está nos outros e, por mais que seja bom o que você tem a oferecer, as pessoas tem a opção de negá-lo. 
Paciência. 
Não é culpa sua (dá pra por isso na sua cabeça, de uma vez por todas?).

Ela se vestia de luz. E isso é tão raro nos dias de hoje. 

Ela foi lá pra fora, olhou pro céu e viu que o pior já passou. 

E ficou tudo bem!

segunda-feira, 19 de agosto de 2013



Solta que volta

O coração às vezes aperta. 
E eu um sinto medo daquele vazio. 
Eu entendo que seja melhor ir. 
Por algum motivo que sei que não entendo, sei que o melhor a fazer é ir. 
É precisa ir, porque a vida é curta, então vai, pode ir sem medo. 
Medo, sim, às vezes sinto medo. 
Meu tempo não foi perdido, meu tempo é só meu, e não estou aqui à toa.
Mas você falou pra eu vir e eu vim.
Vim atrás de algo tão maior que apego. 
Tão maior que medo. 
Ninguém é dono de ninguém. 
E se estamos aqui hoje é pela escolha. 
Pelo querer . 
Pelo que é nosso.
Só quero que seja leve. 
E acima de. nós, só luz

domingo, 12 de maio de 2013

Deu um gole na água e saiu por aí a caminhar sem esperar nada.
Já fazia muito tempo que não se sentia assim. 
De alguma forma ia trombando com as vontades e com os acontecimentos como alguém que tromba com algo esquecido no fundo do armário, ou na poeira de uma lembrança antiga. Tinha afeição por coisas velhas e via os amigos como se todos fizessem parte de um espetáculo, com tramas e dramas tão reais que chegavam a ser inacreditáveis. E tudo parecia muito natural. Sentia, que algumas coisas estavam dando muito certo. Havia conquistado uma espécie de segurança e de uma paz interior que não entendia bem se tinha sido conquistada com análise ou com deus. Tinha a paz de quem vive o instante presente. Vivendo sem querer mais que o desenrolar das coisas possam dar. Havia aprendido a focar sua energia. Ou talvez estivesse simplesmente feliz por ser capaz de ser uma pessoa. E ser uma pessoa era tudo o que queria ser, sem promessas para o futuro, mas na certeza de habitar com toda a força a preciosidade do momento presente. Não queria vender loucuras pro mundo, mas somente conservar o melhor lado de sua loucura. 
Como quem quisesse apenas colocar as vontades nos seus lugares certos.
Sobre o tamanho de incerteza que me leva ao lugar mais incerto.
Sobre a certeza inerte.
Sobre a vontade de viver mais do que posso, de experimentar um pouco de tudo e de ter sempre aquela sensação de ter feito pouco.
Sobre o resto, aprendi nada.
Me recuso a querer ser equilibrada demais, não sou obrigada. 
Mas sinto falta do equilíbrio, as vezes.
Às vezes o vazio é só fome. Ou sede. Ou vontade de criar problemas.
Sei que a minha inquietude de hoje tem a ver com aquele pânico de me tornar uma dessas pessoas que simplesmente tiram o lixo da casa, levam o cachorro pra passear....
Vivo constantemente sobre o paradigma da urgência.
Querer que cada instante seja único me faz ser tomada pela ansiedade.
E assim vou passando por cima das coisas... Tropeçando nas pessoas... Tropeçando em mim. 
Não posso querer ser mais do que não fui.
Assim como querer ser mais é apenas a tentativa de querer ser alguma coisa. 
Não sei se sou alguma coisa. Mas as vezes me pego tentando. E tentar ser pode valer mais do que se colocar em um lugar de estabilidade.
Eu sou aquilo que não prometo ser e a cada minuto que passa vou me desconstruindo nesse risco enorme que é a vida.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Já é março. 
O verão começa a dar as costas pro tempo e dá lugar pro outono, pras folhas que caem das árvores. 
A minha alma habita um instante essencial que parece voltar àquilo que nunca foi mas sempre quis ser. É quando me dou conta de que é preciso muito cuidado para cuidar daquilo que se chama vida. 
A casa é o corpo, o tempo é a calma. 
Eu não me canso nunca, tô  sempre ai pronta pro acaso. 
Melhor acreditar.
Melhor ser. 
A ternura como força revolucionária. 
A paciência com o desenrolar dos acontecimentos. 
Respiro profundamente e olho no fundo dos olhos dos meses do ano. 
Só queria estar aonde estou agora, estar aonde se está. 
Mudar quando for preciso. 
E rir.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

"E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé."

Carlos Drummond de Andrade - Infância 


quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

pronto, deixei você ir. 
pode amar outra pessoa com aquele amor que por mim você nunca teve. 
eu prometo que não vou ter ciúmes, e nem vou te perturbar.
deixo que o acaso faça seu trabalho, que o mundo me surpreenda, me leve e me traga de volta, e te traga se assim for. 
e, se não for, estarei de peito aberto mas também de olho aberto.
o mundo não vai acabar. 
nunca mais.  
e hoje, eu só morro de rir.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Ela quis abandonar a viagem por não dar conta mais, tanto pensamento, tanto sentimento,  tanta dúvida... e de repente se viu em si da forma mais difícil que poderia ser. 
Quantos nãos são necessários pra achar o próprio caminho ein? 
Talvez fosse isso: parece existir de fato um movimento cósmico e absolutamente natural para que as coisas sejam duras e, com isso, o jeito seria não endurecer com mais nada. O jeito é encontrar um equilíbrio entre a delicadeza e a agressividade e conseguir confiar mesmo depois de tanta dor. O jeito é seguir adiante e ir desatando os nós, as próprias neuras. O jeito é seguir fluidez, menos razão, menos cálculo, mais coração e lucidez. 
O jeito é respirar fundo e seguir viagem.
A viagem começa quando se volta pra casa. 
Pra dentro de sí.
Engraçado: Mas a saudade que eu sinto hoje não é nem de você. 
Porque você é algo que nunca nem chegou a existir. Porque o você que vejo hoje não é você . 
E o você que não vejo é o eu que eu nem sei mais... 
Você virou uma outra coisa. 
E eu? Eu revirei. 
E daqui, o que vejo é tudo invenção minha.  
Haverá sentimento na lucidez?
 

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Ela gostava do equilíbrio, mas não podia evitar que os sentimentos ganhassem vida própria e saissem por aí, escorrendo pelos olhos.

Tinha um pouquinho de ingenuidade, mas não chegava a ser assim, boba. Muito pelo contrário.

Ela falava muitas vezes pras paredes, conversas imaginárias, principalmente aquelas que nunca conseguiria falar para os 
destinatários verdadeiros.
E de vez em quando se apegava às coisas insignificantes, como se significassem algo, mas reconhecia a dificuldade em esquecer. 

Bobagem...

Mas ai teve um dia que ela acordou, olhou pra janela e viu um ano inteiro que tinha se passado quase que sem ela perceber. 

Um ano inteiro na tentativa de recuperar algo que nem chegou a existir. 

Se aproximou da janela e só conseguia ver coisas novas com seus olhos velhos.

E meio que duvidando daquilo que via, se aproximou da janela novamente,   e viu aquelas coisas velhas com novos olhos.

Foi quando ela aproximou os olhos do mundo e viu de perto a sua insignificância.

É a vida, que às vezes nos convoca à enxergar com novos olhos. 

E, por alguma razão, ela estava ali, diante da janela, sendo convocada a enxergar.

E a partir de agora, ela iria ver, um outro mundo através daquela janela.

Os olhos atentos, e os pés fincados na realidade.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Ele apareceu pra curar Ela, e Ela pra curar Ele também.
Ela guardava toda a dor do mundo, todas as feridas de um sentimento sem cura  e Ele guardava os ouvidos, e o braço sempre estendido.
E ali, naquele começo, Ele quase se esquecia da ferida que também precisava de curar, ferida de um sentimento quase sem cura.
Quase incurável?
Não sei. Só sei que começaram assim, primeiro pelo colo, pelos braços, e depois pela cura dos dois. Cúmplices de uma mesma dor, de um mesmo sentimento, se consolavam juntos, pouco a pouco.
Um no colo do outro, lá estavam os dois a compartilhar as feridas abertas.
Ele soprava a ferida Dela de um jeito que a aliviava.
Ela só sorria pra Ele,  e isso já era tudo.
Compartilhavam as feridas e assim iam também compartilhando os braços, abraços, sonhos, sonos, idéias, olhares, toques, silêncios.
Se entendiam muito bem durante as conversas. E se entendiam melhor ainda nos silêncios.
À medida que iam se entendendo, iam também se curtindo, mais e mais.
Porém, mesmo um precisando tanto do colo do outro, tanto Ela quanto Ele colocavam ali um limite de envolvimento, uma linha tênue quase transparente que os impedia de ir muito adiante, é que eles ainda não estavam curados.
Os dois sabiam que tinham se conhecido  para se curarem, e não podiam e nem deviam ir muito além disso...
Ele não era pra Ela.
E Ela não era pra Ele.
Tinha ali algo quase melhor do que o amor: cumplicidade, carinho, colo, abraço e amizade.
Leveza. 
Ele adorava Ela.
E ela, ela adorava tanto Ele...
E os dois se guardavam no nada... longe de qualquer dor.
E se enchiam de abraços: um abraçava a dor do outro, e o outro curava a ferida de um.
Por fim Ela só queria conversar com Ele.
E Ele, Ele só queria confiar Nela.
Iam se adorando na paz e nas risadas.
Até que teve um dia eles se entenderam demais, se entendaram tanto... que aqueles abraços se tornaram tão apertados que foram ficando sufocantes.
Insegurança e medo.
Nunca mais Ele curaria Ela.
Nunca mais Ela curaria Ele.
E o medo de uma outra nova ferida fez com que cada um seguisse o seu caminho.
Se separaram.
E agora, quando alguma ferida começa a se abrir, Ele acena pra Ela, e Ela sorri pra Ele.
E eles se entendem muito bem, melhor ainda no silêncio.
 

domingo, 12 de agosto de 2012

Não saber como agir.
Não saber o que atinge e nem o que afasta. 
Não saber fazer silêncio. 
Não conseguir ouvir o silêncio.
Gastar palavras e reduzir o que não cabe em palavras. 
Não saber o que leva e nem o que traz.
Ser assim, errante e impulsiva.
Exagerar, falar demais, viver demais, gostar demais.
O coração pede paz.
Não foi por falta de vontade.
Eu juro que tentei. 
Olhemos ao redor. 
A perfeição está mesmo nos detalhes? 
E a dor, será ela que define a nossa vida inteira? 
Não sei de nada.
Mas a felicidade, essa sim é a prova dos nove. Sempre. 
Permaneço no instante.
Não olho mais pra dentro, e nem muito pra fora. 

Não forço mais,
tenho as minhas convicções.

Me desafio.
Estou de frente com o próprio limite.
Sei respeitar o limite do limite.
Permito o silêncio.
Assumo as contradições,
ocupo novos lugares, 

e faço da alma festa
de um primeiro contato.

sábado, 11 de agosto de 2012

Deixa fluir.

Nada é absoluto o suficiente.
Somos feitos de instantes. 
Um dia pode ser só um dia. 
Uma noite pode ser só uma noite. 
O acontecimento acontece em um ponto. 
E é esse o momento. 
Vai... Volta. E transforma. 
Os acordos deixam de ser. Voltam a ser. E são.
É bonito permitir os impulsos.
Os desejos têm que ter a liberdade de acontecer sem julgamentos. 
E as ideias podem mudar. 
E os instantes, ainda que efêmeros, ainda que vazios, são sempre cheios de si. Cheio de nós.
E a vida flui...

De carona.

Me lembro que quando morei no Hawaii, a carona era um meio de transporte comum... E cada dia, eu pegava uma carona diferente, com um maluco diferente... e aquilo mudava o meu dia.

Aqui em Belo Horizonte, com a disseminação da violência, do medo, pegar uma carona se tornou uma verdadeira aventura, para a maioria, ou aos ouvidos daqueles que escutam relatos de viagens feitas pelos outros.

Eu tenho uma amiga que vive vindo de Ouro Preto pra Bh de carona, e confesso que já me peguei preocupada com isso algumas vezes...

Mas na real, acho que a carona é uma aventura sim. Mas talvez não tão arriscada assim.


Embora não se veja tantos caroneiros na beira da estrada, ainda é uma forma bem viável de se viajar.


A carona pode ser uma das melhores maneiras de realmente conhecer a fundo um lugar.


Uma viagem de carona é  uma forma bacana de conhecer a cultura de uma determinada região, que nos permite conhecer lugares que provavelmente não visitariamos e que nos permite conhecer pessoas que possivelmente nunca iriamos conhecer. O motorista pode ser um maluco filósofo, policial, hippie ou um fanático religioso. Você então passará um tempo com uma pessoa que você nunca imaginaria que um dia manteria uma conversa casual.



O caroneiro é um ser cheio de liberdade. Só você e sua mochila!

Sem horários e complicações, um objetivo a seguir, e toda a estrada pela frente.

Viajar de carona é uma oportunidades de viver uma aventura, numa época em que as viagens se tornaram bens de consumo, com milhares de opções de pacotes turísticos que te levam a ter uma experiência extremamente superficial, muito aquém do que se poderia realmente viver... 

A fé na humanidade, se restaura. Por todo o mundo, pessoas distintas e desconhecidas te levarão adiante, te oferecendo um pouco de segurança, abrigo ou comida. Gentileza e cooperação são os valores despertados pela carona.

Não somente somos tocados pela gentileza dos que decidem nos ajudar, mas também, de alguma forma mudamos essas pessoas. Nossas histórias, relatos, desejo de conhecer o mundo, e principalmente de mudá-lo, de uma forma ou outra servem como inspiração para as pessoas que encontramos pela estrada afora.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Desperdício de intenções.
Sobra de descuidos e inverdades.
O telefone tocando.
Eu torcendo para ser outra pessoa.
E entristecendo por não ser você.
Você disse que ia ligar.
Eu pedi para deixar pra lá.
E você acreditou quando eu disse que não queria mais...

segunda-feira, 23 de abril de 2012

O meu sentimento por você não tem desejo de posse, e nem nunca teve.
É estranho ver, tanta vontade aceitando a grandeza do mundo. 
Não quero amarrar você em mim.
Não quero despermitir. 
Quero essa estória assim, desse jeito, feita de vôos, meios de, desde o início, já era isso. 
Fazer o peso ser leve. 
Só não se esqueça de abrir a janela. 
Eu continuo aqui fora. 
Não sei por quanto tempo. Não importa. Mesmo. 
Enquanto houver sentimento, vou olhar daqui de fora pra sua janela. 
E, de tempos em tempos, vou sair pra ver o mar.

sábado, 14 de abril de 2012

Num domingo muito cedo.
Cedo demais até. 
Horários comuns que não acompanhavam um organismo boêmio por determinação.
E uma vida que não acompanhava uma rotina por determinação.
Não aceitava um futuro onde  precisaria escolher qual a melhor propaganda para um negócio qualquer.
O mundo é muito mais que muros...
E eu me recuso a viver presa aqui.
Pensamentos esperando para serem redigidos há tempos, sem encontrar espaço para se expressar. Ouvi dizer que os escritores não pensam melhor do que outras pessoas, apenas relembram tudo o que divagam quando pegam a caneta. Sendo assim, não me incluo nesse meio, fico só tecendo as opiniões mesmo...
Embora eu saiba que tudo que vaga pode encontrar um ponto qualquer...
Lembranças das andanças pela África...
Hoje quando peguei o ônibus para voltar para casa estava sozinha, num banco daqueles de dois, tentava controlar meu cansaço, minha recente falta de paciência com o mundo. Estava ouvindo música de olhos fechados quando senti alguém sentar ao meu lado. Era uma mulher com o sorriso mais bonito que eu já vi. No colo uma criança e ao lado, em pé, estava o marido com outra criança também pequena. Levantei e ofereci meu lugar para ele e a garotinha que ele segurava sentarem.
Eu prestava atenção no casal. Ele tratando ela tão bem, mesmo com as derrotas que pareciam estampadas no rosto dos dois. Segurando suas crianças como se isso fosse protegê-las de todo o mal.
Uma senhora entrou. Equilibrava sacolas e a sombrinha. Um menino, de aparência bem humilde levantou para que ela se sentasse. O motorista ia andando com cuidado, passando devagar pelas poças deixadas pela chuva da tarde e as pessoas relatavam os próprios problemas com bastante humor.
Comecei a pensar na burrice que era me incomodar com coisas tão pequenas. E em pouco tempo tudo pareceu tão calmo, tão simples, tão fácil de levar. Essa humanidade que temos é o que ainda nos salva de nós mesmos. Atos pequenos, que nos são quase indiferentes e que podem mudar uma hora na vida de alguém.
Eu passei tanto tempo procurando alguém em quem colocar a culpa pelas minhas frustrações e, naquela meia hora, consegui consertar tudo dentro de mim mesma. Não eram os outros, eu estava quebrada.
É muito mais eficaz resistir quando a alma, o espírito e, principalmente, o coração estão em paz. É muito mais motivador lutar quando temos alguém para assegurar.
Caminhei devagar até em casa, sentindo que não queria o fim da noite. Sentindo saudades.
Gosto daqueles que sempre tem histórias absurdas para contar, dos que sabem o que é pecado porque experimentaram e não porque leram na bíblia. 
A teoria enfraquece qualquer experiência, adianta as expectativas, os possíveis sentimentos e, assim, os torna esperados. 
Só o absurdo causa impacto e só o impacto me deixa viva. 
Gosto de provocações, gosto dos perigos, quando trazem alguma satisfação real. 
Jogos desnecessários me entediam, rápido, muito rápido. 
Não gosto de respeito por obrigação.  
Gosto dos que criticam porque entendem do que falam, não porque compraram uma opinião, e não porque ganharam um conceito pronto, embrulhado de presente.