segunda-feira, 20 de junho de 2011

O tempo cura mas também afasta.

Ontem vi você com aquele jeito manso e distraído, como se o mundo estivesse aí, pra nada. Como quando a gente era criança e brincava de achar desenhos nas nuvens e de montar as cidades de lego.
Sabe, eu não consegui dizer, mas ontem sonhei com você. 
A cortina deixava entrar uma luz fraca que aumentava aos poucos.
No sonho e na realidade houve este gesto inconcluso.
E a vida aqui em casa segue indiferente.  
O tempo cura mas também afasta.
Nós estamos nos afastando, e era isso que eu precisava dizer.
Hoje, diante de você, me faltou coragem. 
Nunca mais fiquei vendo o tempo passar na janela, somente hoje voltei pra cá pra ver a chuva lavar o asfalto. 
O estranho é que eu percebia suas atitudes, mas achava que isso não queria dizer nada. 
Esquecia que cada sinal tem sua força específica. E eles se sucederam, cumprindo o destino.
Diante dos seus olhos que olham para lugar algum, minha coragem é vencida pela sensação de impotência. Tenho me perguntado: por que ou para que você voltaria? 
Reconheci algo em você que não sei bem definir. 
Eu gostaria de lhe falar de mim e do mundo. 
Para tentar fazer com que você enxergue.
E, talvez até volte pra nossa casa.
Tô cansada já.
E vê-lo assim é como me calar também quando eu deveria gritar. 
Eu sei que foi uma escolha sua. Ir se afastando, abrindo um caminho desconhecido para o qual só você tem acesso. 
Pra que obrigá-lo a voltar? 
Ninguém compreende isso. Eu sim, talvez porque também nunca quis o que se chama mundo real, talvez por isso eu o compreenda.  
A gente sabe a fala de cada um e também qual o passo seguinte. 
Aqui eu devo parar. 
Essa é a sua marca. 
O silêncio é agora a sua fala maior. De dentro de minha dor eu me calo para que você se fortaleça. 
E, quem sabe eu compreenda finalmente.

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