quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

pronto, deixei você ir. 
pode amar outra pessoa com aquele amor que por mim você nunca teve. 
eu prometo que não vou ter ciúmes, e nem vou te perturbar.
deixo que o acaso faça seu trabalho, que o mundo me surpreenda, me leve e me traga de volta, e te traga se assim for. 
e, se não for, estarei de peito aberto mas também de olho aberto.
o mundo não vai acabar. 
nunca mais.  
e hoje, eu só morro de rir.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Ela quis abandonar a viagem por não dar conta mais, tanto pensamento, tanto sentimento,  tanta dúvida... e de repente se viu em si da forma mais difícil que poderia ser. 
Quantos nãos são necessários pra achar o próprio caminho ein? 
Talvez fosse isso: parece existir de fato um movimento cósmico e absolutamente natural para que as coisas sejam duras e, com isso, o jeito seria não endurecer com mais nada. O jeito é encontrar um equilíbrio entre a delicadeza e a agressividade e conseguir confiar mesmo depois de tanta dor. O jeito é seguir adiante e ir desatando os nós, as próprias neuras. O jeito é seguir fluidez, menos razão, menos cálculo, mais coração e lucidez. 
O jeito é respirar fundo e seguir viagem.
A viagem começa quando se volta pra casa. 
Pra dentro de sí.
Engraçado: Mas a saudade que eu sinto hoje não é nem de você. 
Porque você é algo que nunca nem chegou a existir. Porque o você que vejo hoje não é você . 
E o você que não vejo é o eu que eu nem sei mais... 
Você virou uma outra coisa. 
E eu? Eu revirei. 
E daqui, o que vejo é tudo invenção minha.  
Haverá sentimento na lucidez?
 

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Ela gostava do equilíbrio, mas não podia evitar que os sentimentos ganhassem vida própria e saissem por aí, escorrendo pelos olhos.

Tinha um pouquinho de ingenuidade, mas não chegava a ser assim, boba. Muito pelo contrário.

Ela falava muitas vezes pras paredes, conversas imaginárias, principalmente aquelas que nunca conseguiria falar para os 
destinatários verdadeiros.
E de vez em quando se apegava às coisas insignificantes, como se significassem algo, mas reconhecia a dificuldade em esquecer. 

Bobagem...

Mas ai teve um dia que ela acordou, olhou pra janela e viu um ano inteiro que tinha se passado quase que sem ela perceber. 

Um ano inteiro na tentativa de recuperar algo que nem chegou a existir. 

Se aproximou da janela e só conseguia ver coisas novas com seus olhos velhos.

E meio que duvidando daquilo que via, se aproximou da janela novamente,   e viu aquelas coisas velhas com novos olhos.

Foi quando ela aproximou os olhos do mundo e viu de perto a sua insignificância.

É a vida, que às vezes nos convoca à enxergar com novos olhos. 

E, por alguma razão, ela estava ali, diante da janela, sendo convocada a enxergar.

E a partir de agora, ela iria ver, um outro mundo através daquela janela.

Os olhos atentos, e os pés fincados na realidade.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Ele apareceu pra curar Ela, e Ela pra curar Ele também.
Ela guardava toda a dor do mundo, todas as feridas de um sentimento sem cura  e Ele guardava os ouvidos, e o braço sempre estendido.
E ali, naquele começo, Ele quase se esquecia da ferida que também precisava de curar, ferida de um sentimento quase sem cura.
Quase incurável?
Não sei. Só sei que começaram assim, primeiro pelo colo, pelos braços, e depois pela cura dos dois. Cúmplices de uma mesma dor, de um mesmo sentimento, se consolavam juntos, pouco a pouco.
Um no colo do outro, lá estavam os dois a compartilhar as feridas abertas.
Ele soprava a ferida Dela de um jeito que a aliviava.
Ela só sorria pra Ele,  e isso já era tudo.
Compartilhavam as feridas e assim iam também compartilhando os braços, abraços, sonhos, sonos, idéias, olhares, toques, silêncios.
Se entendiam muito bem durante as conversas. E se entendiam melhor ainda nos silêncios.
À medida que iam se entendendo, iam também se curtindo, mais e mais.
Porém, mesmo um precisando tanto do colo do outro, tanto Ela quanto Ele colocavam ali um limite de envolvimento, uma linha tênue quase transparente que os impedia de ir muito adiante, é que eles ainda não estavam curados.
Os dois sabiam que tinham se conhecido  para se curarem, e não podiam e nem deviam ir muito além disso...
Ele não era pra Ela.
E Ela não era pra Ele.
Tinha ali algo quase melhor do que o amor: cumplicidade, carinho, colo, abraço e amizade.
Leveza. 
Ele adorava Ela.
E ela, ela adorava tanto Ele...
E os dois se guardavam no nada... longe de qualquer dor.
E se enchiam de abraços: um abraçava a dor do outro, e o outro curava a ferida de um.
Por fim Ela só queria conversar com Ele.
E Ele, Ele só queria confiar Nela.
Iam se adorando na paz e nas risadas.
Até que teve um dia eles se entenderam demais, se entendaram tanto... que aqueles abraços se tornaram tão apertados que foram ficando sufocantes.
Insegurança e medo.
Nunca mais Ele curaria Ela.
Nunca mais Ela curaria Ele.
E o medo de uma outra nova ferida fez com que cada um seguisse o seu caminho.
Se separaram.
E agora, quando alguma ferida começa a se abrir, Ele acena pra Ela, e Ela sorri pra Ele.
E eles se entendem muito bem, melhor ainda no silêncio.
 

domingo, 12 de agosto de 2012

Não saber como agir.
Não saber o que atinge e nem o que afasta. 
Não saber fazer silêncio. 
Não conseguir ouvir o silêncio.
Gastar palavras e reduzir o que não cabe em palavras. 
Não saber o que leva e nem o que traz.
Ser assim, errante e impulsiva.
Exagerar, falar demais, viver demais, gostar demais.
O coração pede paz.
Não foi por falta de vontade.
Eu juro que tentei. 
Olhemos ao redor. 
A perfeição está mesmo nos detalhes? 
E a dor, será ela que define a nossa vida inteira? 
Não sei de nada.
Mas a felicidade, essa sim é a prova dos nove. Sempre. 
Permaneço no instante.
Não olho mais pra dentro, e nem muito pra fora. 

Não forço mais,
tenho as minhas convicções.

Me desafio.
Estou de frente com o próprio limite.
Sei respeitar o limite do limite.
Permito o silêncio.
Assumo as contradições,
ocupo novos lugares, 

e faço da alma festa
de um primeiro contato.

sábado, 11 de agosto de 2012

Deixa fluir.

Nada é absoluto o suficiente.
Somos feitos de instantes. 
Um dia pode ser só um dia. 
Uma noite pode ser só uma noite. 
O acontecimento acontece em um ponto. 
E é esse o momento. 
Vai... Volta. E transforma. 
Os acordos deixam de ser. Voltam a ser. E são.
É bonito permitir os impulsos.
Os desejos têm que ter a liberdade de acontecer sem julgamentos. 
E as ideias podem mudar. 
E os instantes, ainda que efêmeros, ainda que vazios, são sempre cheios de si. Cheio de nós.
E a vida flui...

De carona.

Me lembro que quando morei no Hawaii, a carona era um meio de transporte comum... E cada dia, eu pegava uma carona diferente, com um maluco diferente... e aquilo mudava o meu dia.

Aqui em Belo Horizonte, com a disseminação da violência, do medo, pegar uma carona se tornou uma verdadeira aventura, para a maioria, ou aos ouvidos daqueles que escutam relatos de viagens feitas pelos outros.

Eu tenho uma amiga que vive vindo de Ouro Preto pra Bh de carona, e confesso que já me peguei preocupada com isso algumas vezes...

Mas na real, acho que a carona é uma aventura sim. Mas talvez não tão arriscada assim.


Embora não se veja tantos caroneiros na beira da estrada, ainda é uma forma bem viável de se viajar.


A carona pode ser uma das melhores maneiras de realmente conhecer a fundo um lugar.


Uma viagem de carona é  uma forma bacana de conhecer a cultura de uma determinada região, que nos permite conhecer lugares que provavelmente não visitariamos e que nos permite conhecer pessoas que possivelmente nunca iriamos conhecer. O motorista pode ser um maluco filósofo, policial, hippie ou um fanático religioso. Você então passará um tempo com uma pessoa que você nunca imaginaria que um dia manteria uma conversa casual.



O caroneiro é um ser cheio de liberdade. Só você e sua mochila!

Sem horários e complicações, um objetivo a seguir, e toda a estrada pela frente.

Viajar de carona é uma oportunidades de viver uma aventura, numa época em que as viagens se tornaram bens de consumo, com milhares de opções de pacotes turísticos que te levam a ter uma experiência extremamente superficial, muito aquém do que se poderia realmente viver... 

A fé na humanidade, se restaura. Por todo o mundo, pessoas distintas e desconhecidas te levarão adiante, te oferecendo um pouco de segurança, abrigo ou comida. Gentileza e cooperação são os valores despertados pela carona.

Não somente somos tocados pela gentileza dos que decidem nos ajudar, mas também, de alguma forma mudamos essas pessoas. Nossas histórias, relatos, desejo de conhecer o mundo, e principalmente de mudá-lo, de uma forma ou outra servem como inspiração para as pessoas que encontramos pela estrada afora.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Desperdício de intenções.
Sobra de descuidos e inverdades.
O telefone tocando.
Eu torcendo para ser outra pessoa.
E entristecendo por não ser você.
Você disse que ia ligar.
Eu pedi para deixar pra lá.
E você acreditou quando eu disse que não queria mais...

segunda-feira, 23 de abril de 2012

O meu sentimento por você não tem desejo de posse, e nem nunca teve.
É estranho ver, tanta vontade aceitando a grandeza do mundo. 
Não quero amarrar você em mim.
Não quero despermitir. 
Quero essa estória assim, desse jeito, feita de vôos, meios de, desde o início, já era isso. 
Fazer o peso ser leve. 
Só não se esqueça de abrir a janela. 
Eu continuo aqui fora. 
Não sei por quanto tempo. Não importa. Mesmo. 
Enquanto houver sentimento, vou olhar daqui de fora pra sua janela. 
E, de tempos em tempos, vou sair pra ver o mar.

sábado, 14 de abril de 2012

Num domingo muito cedo.
Cedo demais até. 
Horários comuns que não acompanhavam um organismo boêmio por determinação.
E uma vida que não acompanhava uma rotina por determinação.
Não aceitava um futuro onde  precisaria escolher qual a melhor propaganda para um negócio qualquer.
O mundo é muito mais que muros...
E eu me recuso a viver presa aqui.
Pensamentos esperando para serem redigidos há tempos, sem encontrar espaço para se expressar. Ouvi dizer que os escritores não pensam melhor do que outras pessoas, apenas relembram tudo o que divagam quando pegam a caneta. Sendo assim, não me incluo nesse meio, fico só tecendo as opiniões mesmo...
Embora eu saiba que tudo que vaga pode encontrar um ponto qualquer...
Lembranças das andanças pela África...
Hoje quando peguei o ônibus para voltar para casa estava sozinha, num banco daqueles de dois, tentava controlar meu cansaço, minha recente falta de paciência com o mundo. Estava ouvindo música de olhos fechados quando senti alguém sentar ao meu lado. Era uma mulher com o sorriso mais bonito que eu já vi. No colo uma criança e ao lado, em pé, estava o marido com outra criança também pequena. Levantei e ofereci meu lugar para ele e a garotinha que ele segurava sentarem.
Eu prestava atenção no casal. Ele tratando ela tão bem, mesmo com as derrotas que pareciam estampadas no rosto dos dois. Segurando suas crianças como se isso fosse protegê-las de todo o mal.
Uma senhora entrou. Equilibrava sacolas e a sombrinha. Um menino, de aparência bem humilde levantou para que ela se sentasse. O motorista ia andando com cuidado, passando devagar pelas poças deixadas pela chuva da tarde e as pessoas relatavam os próprios problemas com bastante humor.
Comecei a pensar na burrice que era me incomodar com coisas tão pequenas. E em pouco tempo tudo pareceu tão calmo, tão simples, tão fácil de levar. Essa humanidade que temos é o que ainda nos salva de nós mesmos. Atos pequenos, que nos são quase indiferentes e que podem mudar uma hora na vida de alguém.
Eu passei tanto tempo procurando alguém em quem colocar a culpa pelas minhas frustrações e, naquela meia hora, consegui consertar tudo dentro de mim mesma. Não eram os outros, eu estava quebrada.
É muito mais eficaz resistir quando a alma, o espírito e, principalmente, o coração estão em paz. É muito mais motivador lutar quando temos alguém para assegurar.
Caminhei devagar até em casa, sentindo que não queria o fim da noite. Sentindo saudades.
Gosto daqueles que sempre tem histórias absurdas para contar, dos que sabem o que é pecado porque experimentaram e não porque leram na bíblia. 
A teoria enfraquece qualquer experiência, adianta as expectativas, os possíveis sentimentos e, assim, os torna esperados. 
Só o absurdo causa impacto e só o impacto me deixa viva. 
Gosto de provocações, gosto dos perigos, quando trazem alguma satisfação real. 
Jogos desnecessários me entediam, rápido, muito rápido. 
Não gosto de respeito por obrigação.  
Gosto dos que criticam porque entendem do que falam, não porque compraram uma opinião, e não porque ganharam um conceito pronto, embrulhado de presente.


terça-feira, 10 de abril de 2012

Do que é feita a eternidade?
Poucos minutos que me consomem,
tempo que demora passar
e saudade daquilo que ficou.

Pequena morte.

Todos os dias eu morro um pouquinho só para dar lugar à novas esperanças.
Meu morrer é uma forma de enterrar os sonhos velhos, já desgastados pelas tentativas inúteis de se tornarem reais. 
Estranho é perceber que na mesma terra onde enterro meus devaneios brotam novas vontades. 
Sou eu querendo de novo, brincando com a vida.
Nesse cíclo de vida e morte, aos sonhos, atribuo o nome de conquista, realização e felicidade.
Aos sonhos que se perderam para sempre, pura ilusão.
Há quem prefira se agarrar ao último suspiro, mas eu não. 
Eu preciso respirar o acontecer, porque sei que ele não se encontra nos desejos desfalecidos.

domingo, 8 de abril de 2012

EXPERIÊNCIAS ANTROPOLÓGICAS

"Atualmente participo de um estágio na APAC (Associação de Proteção e Assistência ao Condenado) onde atendo um recuperando. Para quem não sabe a APAC é uma Entidade Civil de Direito Privado atuante nos presídios, que tem como metodologia a valorização humana e que visa oferecer ao condenado formas de se recuperar e retornar à vida social. O meu trabalho lá é de construir, junto com o recuperando que atendo, um livro que conte um pouco de sua história de vida.
Hoje, depois da profunda experiência que tive ao atendê-lo, sai desnorteada da sala onde tudo acontecera. É tudo muito intenso, muito real. Difícil mesmo de engolir. Milhões de pensamentos começaram a brotar na minha cabeça e aqui desejo transformá-los em palavras, texto e reflexão.
A sociedade vende o preso como um monstro. Mentira. Eles são como nós, eles fazem parte de nós. Nós somos eles, mas como nascemos em contextos diferentes, não ficamos sujeitos à mesma realidade. A verdade é que o ser-humano, em sua grande parte, é um ser fraco. Ele cede às tentações, ele cede às incertezas, ao medo que a realidade passa. Por isso, reage do jeito que dá.
Ao sair da sala, fiquei esperando a minha companheira de estágio para irmos embora juntas. Resolvi aguardá-la na recepção onde não tinha ninguém e onde eu permaneceria presa. Trancada. Olhando através das grades da Apac fiquei tentando imaginar a sensação de se estar preso. Obviamente que o que eu senti naquele momento não se compara a uma real experiência, mas ao pensar nisso, só consegui encontrar em mim uma angústia gigantesca. Angústia de animal castrado, preso, recluso. Pensei no que a liberdade representa. Ser livre é a melhor coisa do mundo, acho que esta é a palavra mais bela que já ouvi. Ela não implica em fazer o que quiser, mas implica ser o que quiser, sentir o que quiser, respirar fundo e apreender o nosso eu interior. Eu mirava do portão a paisagem que se encontra em frente ao prédio e só pensava como queria poder ir ali, até ali que fosse. Mas ir se quisesse. Isso é ser livre, palavra e poesia ao mesmo tempo. Eu amo a liberdade.
Refleti então sobre a ideia de que quem faz algo para ser preso é punido, principalmente, através da perda da liberdade. Perde o respeito da sociedade, vira um estereótipo e muitas vezes não é aceito de volta. Corrijo, nunca é aceito de volta. Ninguém lembra que aquele ser vivo, da nossa espécie, que sente igual a gente, que pagou pelo que fez em condições sub humanas tem o direito de voltar para a vida social. Ninguém se lembra disso, nem o governo, muitos menos os cidadãos ocupados em cuidar do próprio umbigo e da própria carteira. É muito mais fácil unir essas pessoas marginalizadas às categorias da nossa cognição que eliminam os mesmos das nossas preocupações.
Vale a pena? Esse tipo de punição funciona? Porque até onde eu sei, no Brasil ele não muda nada. Ele ensina os condenados a odiar mais o mundo e a resolver as coisas do jeito que eles sabem. O sistema é tão precário que chega a ser ridículo, “dá raiva” mesmo. O resultado é
uma experiência mágica que cria dragões, feras e monstros. Porque não tem jeito, quero ver se fosse com você, ou comigo.
Não estou negando os crimes cometidos, muito menos os aprovando. Mas uma vez li que quando não é possível mudar a situação em si é possível ainda mudar a nossa posição diante dela. Nós como sociedade estamos proporcionando o melhor para formar cidadãos honestos que busquem meios legais de viver? Acho que essa pergunta nem precisa de resposta. Está óbvio, cidadão brasileiro, que não! E disso ninguém lembra na hora de julgar o criminoso. Não podemos controlar o comportamento, nem os pensamentos que tomam cada um dos homens e mulheres todos os dias. Mas, podemos mudar o jeito que o mundo é construído. Ou vocês acham que do jeito que as coisas andam está funcionando? A mudança deve começar por aí.
Foi isso que senti hoje ao ir a APAC e conhecer mais um pouquinho dos tantos pouquinhos da vida que não conheço, e que unidos transformam-se no mundo todo. 
Vale a pena pensar, repensar, criticar e mudar!"

por Déborah Rocha. 

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Precisava de um tempo sozinha. 
Aquele tempo onde nada nem ninguém pudessem me perturbar.
Era o momento de estar em mim. 
Reviver, repensar, refazer roteiros e me distrair com a rotina.  
Um tempo bom eu diria. 
Tão bom que talvez estivesse adaptada totalmente a ele.
Como quando a gente muda de cidade, acha tudo estranho e de repente se dá conta que aquele lugar é todo seu, é a sua cara, tem o seu jeito.
 
Então quando tudo estava certo, surge algo inesperado.   
Algo que te faz descobrir sentimentos, emoções, e idéias.
Algo que te faz pensar várias vezes sobre o rumo da vida. 
É estranho, mas de repente, tão rápido, eu estava ali, inteiramente disposta a começar, a fazer novos planos, a viver algo completamente diferente.  
A sensação é que a cidade não mudou em nada. 
Só passou a ser mais bonita.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Ter que tolerar o silêncio, o meu silêncio, o seu, enquanto o mundo lá fora caminha e gira. 
Ter que seguir sem querer virar página, e não ter que virar, e essa vontade quase sem limite de insistir no que já foi... 
Querer o que sempre pensei que não ia querer nunca mais, e lamentar que o que quero talvez nem seja real. 
Te querer quase sem pensar, quase sem razão. 
Ficar atormentando a pobre da memória com culpas, procurando um indício, qualquer pista que me indique um erro, o meu erro, o seu, o nosso. 
Sentir raiva mesmo sem sentir. 
Não entender que lugar foi esse que eu ocupei, que eu ocupo pra você. 
Confundir o real com o possível. 
Tentar entender o que foi e o que não foi, culpar o tempo, a distância, o medo, a sua conduta toda errada. 
Não querer desacreditar, não aceitar que tudo se acabou. 
Impedir que a gente fosse como os outros, que a gente fosse como todo mundo, que a gente fosse comum, que a gente também fosse possível de acabar.
Na dúvida de como reagir, decidi virar de costas, fechar os olhos, respirar fundo e permitir que ele fosse guiado pelos próprios passos, pelo próprio coração. 
Vou deixar ele ser esquecido e ser somente mais um habitante da minha memória esquecida, de lembranças minhas. 
Vou observar ele daqui de longe enquanto promete coisas pra si e nada mais. 
Vou deixar ele acreditar em palavras vazias, em outros olhos, e que ele se lembre de mim com carinho e consideração, como se fosse verdade, como se fosse alguma coisa um pouco mais que isso tudo que não importa mais...
Vou fazer com que a gente exista de longe, como duas coisas que justamente por serem tão longes não foram capazes de existir.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Vontade de despejar o meu mundo num pedaço de papel...

Já me senti mais em casa almoçando numa tribo indígena no Panamá do que na minha própria casa...
As vezes sinto que não sou daqui, e não sou de canto algum. Tenho umas questões que me limitam e eu preciso seguir, mas tenho que me livrar de mim pra poder voltar a mim... Queria aprender física quântica um dia, para aprender a me integrar, conscientemente, ao todo infinito do qual faço parte.
É solitário viver assim, mas é também libertador. A gente vaga por todas as tribos sem pertencer a nenhuma delas...
De um tempo pra cá tenho sentido uma necessidade de reclusão. Passo uns dias sem sair de casa. Penso, leio, escrevo, falo sozinha, e às vezes faço absolutamente nada. Talvez seja isso o tal do ócio criativo, e é bom quando ele dá certo...
Mas escrever já é por sí uma prática meio solitária. Entre o ócio e a preguiça tenho idéias e invento uns casos que talvez não teriam me vindo à mente se o lápis não me puxasse os dedos. E quando gosto daquilo que escrevo é uma delícia!
Mas o que eu quero mesmo é sentir as alegrias essencias que já fizeram parte do meu dia-a-dia. Ultimamente só vejo graça no que mexe nas minhas lembranças. Sinto saudade dos mares e das montanhas do Hawaii. Eram intermináveis, e era incrível como a vista nunca alcançava o fim, era bonito e incomum de ver como essa paisagem tendia ao infinito... E quando eu voltava do trabalho, caminhava na estrada olhando as montanhas e imaginando o que podia existir por trás daquela paisagem. Na verdade eu sabia que haveria apenas uma outra montanha bem parecida com aquela que eu tava olhando, mas nunca, naqueles dias, aquilo me pareceu chato ou repetitivo. Muitas vezes eu ia só, outras a Mari me fazia companhia. A caminhada era longa e só terminava quando o sol se punha e não dava mais pra enxergar as cores e nem os detalhes das coisas, se viam apenas os contornos do início da noite.
Me lembrei de um dia maravilhoso que eu passei com o Phil, a gente foi numa cachoeira, subimos e descemos uns barrancos, era bonito como ao mesmo tempo que ele falava pouco, ele falava uma imensidão, mas os sentimentos e tudo o que é da alma aparecem escancarados, nas pausas das entrelinhas. Como diz a minha mãe "pra bom... meia".
Tenho tudo isso pregado na memória. A satisfação estava no percurso, eu sempre soube que alcançar um ponto só pra ver a vista do outro lado era só a motivação pra seguir esse caminho. Mas com o tempo meus caminhos foram se estendendo pra outros lugares, outras cidades, outros países...
E assim, soprada pelo vento, fui trazida de volta.
Olhando para trás percebo que se passou um bom tempo, e que já não penso como pensava, não enxergo nas coisas as mesmas coisas, tenho outros interesses, me enchi de responsabilidades intrasnferíveis, de limitações emocionais, compro umas coisas caras que não sei porque, me parecem imprescindíveis, desenvolvi umas manias esquisitas e agora me vejo numa situação que nunca busquei.
Espero que um dia lendo esses escritos, eu possa viver das possibilidades que eu sequer consigo enxergar, sendo guiada apenas por uma intuição...

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Semana passada estava no Rio e peguei um ônibus pra encontrar um amigo meu no Leblon, dentro do "ôns," conheci a Jaqueline. Se Deus existe, tenho certeza que foi o responsável por esse encontro casual. Jaqueline era uma menina tão simples que passava despercebida pela maioria; magrelinha, tinha cabelo ruim, pés descalços, mas sorria lindo e constantemente. Sentei ao seu lado e puxei assunto falando do céu, que parecia até de lantejoula, de tão estrelado que tava. No decorrer da conversa, percebi o quanto surgia a palavra “impressionante” no vocabulário dela. Na verdade, tudo dela era "impressionante". O meu jeito de falar e movimentar as mãos, o casal de velhinhos que passeavam de braços dados, os meninos tocando violão na calçada, as contradições do tempo, as criancinhas brincando. Fiquei encantada. Como pode num mundo tão cheio de gente triste e vazia, existir a Jaqueline que ainda vê tanta beleza na vida ein?
Ao mesmo tempo em que minha presença intimidava Jaqueline, eu sentia vergonha de mim diante de tamanha simplicidade e tamanho coração. E quer saber? Jaqueline não transpareceu, em momento algum, nenhuma expressão de infelicidade ou autopiedade. Ao contrário, ela me deixou claro, com aquele inesquecível brilho no olhar, que tinha a capacidade de tornar muito o que parecia tão pouco.
Fiquei pensando. Mas como? O pouco é quase-nada de qualquer jeito. Em qualquer lugar. Não para Jaqueline, que faz das pequenas coisas da vida preciosidades. E recorre a Deus pra dar sentido a tudo, independente do silêncio, ela ouve e muito bem com o coração. A vida, de trabalho duro e pouco estudo (o que definitivamente não mede a sua inteligência), deu à Jaqueline duas qualidades invejáveis: a simplicidade e a coragem de ser gente. Senti, várias vezes, que ela sentia um imenso orgulho ao falar de si mesma. Viajava na própria vida. E se admirava.
Então conclui que ninguém precisa ter uma vida perfeita para ser feliz. 
Afinal, o que é mais fundamental: TER ou SER? Acredito com muita exatidão que essa vida simples que Jaqueline leva, de comer  o que tiver e quando tiver e andar de pés descalços, é muito mais bonita do que a vida de muita gente por aí. Se pirei? Acho que não. São meus olhos que, enxergam de outra maneira.
E um jeito bonito de deixar a vida mais tranquila é olhar lentamente para si mesmo. Reconhecer-se pelo que é. Perdoar-se por não ter tudo que quer e por reclamar tanto do que tem. Com positividade o cotidiano instantaneamente vira poesia em vez de monotonia. Fica bonito e estimulante. Dando vontade de ser mais a cada novo dia. Às vezes deixamos coisas tão pequenas arruinarem o nosso bem estar... A falta de dinheiro (que conturba e uma infinidade de mentes e traz tanta infelicidade) as perdas e decepções. Veja bem: não estou querendo dizer que não precisamos de dinheiro, que decepções e perdas não doem, mas sim que a forma como enxergamos tanto os problemas, quanto a nós mesmos, quanto aos outros, quanto ao mundo influencia bastante o nosso interior.
Por isso aprendi um tanto de coisa com a Jaqueline. O quanto a vida pode melhorar se realmente quisermos que ela melhore. Porque nunca eu disse: NUNCA teremos tudo. Tudo é sem fim, tudo é muita coisa. Se devemos nos conformar? Não, o mais correto seria aceitar. A aceitação extrai angústias, medos, ressentimentos. Aceitar o que somos, o que temos, o que sonhamos, o que perdemos. Aceitar para compreender e fazer melhor a cada dia.
Vivemos numa era em que o perfeito é o belo, onde a ciência fala muito mais alto que a emoção e os holofotes e outdoors silenciam nossas opiniões. Mas do que adianta TER e não sentir nada ein? Do que adianta entender e não ver a beleza nas coisas sentimentalmente inexplicáveis como a Jaqueline? Pra que serve tanta superficialidade se por conseqüência dela a cada dia nos tornamos tão humanos quanto uma  porta? É, Jaqueline.. IMPRESSIONANTE é SER como você. Despreocupada. Descomplicada. Livre de agendas e manuais. Mais humana. Leve, simples. E feliz. Senti vontade de roubar seu coração, fragmentá-lo e doar um pedacinho de Jaqueline para cada pessoa desse mundo.