segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Da janela

Da janela do carro, vejo várias vidas que fico imaginando como são... 
Invento pra elas nomes e acasos. O som do carro faz a trilha sonora dos filmes que crio na minha cabeça, com uma profusão de personagens... 

Da janela do quarto, entra em mim a ilusão da segurança, encontrando as portas abertas. Pela fresta entra um resto de medo e deixo que escapem alguns sonhos.

Do alto do prédio do escritório, minha janela se transforma num observatório de formigas. 



Da janelinha do avião, anseio pela aterrissagem enquanto atravesso o mar de algodão. 

Nos quadradinhos do trem, a velocidade pinta quadros da cor da paisagem.

Dos meus olhos, janela de mim, vejo um mundo só meu. De vez em quando encontro outras janelas que só veem a mim. Uma janela contempla a outra e dali podem surgir relatos, abraços e até algum convite. Curiosa sobre as outras janelas, as minhas janelas estão quase sempre enganadas.

Janela para a rua. Para a casa do vizinho. Para a alma de um amigo. Para emoldurar a vida.
Janela de criar. Câmera que não enquadra: os objetos é que escolhem como é que irão se enquadrar. 
Janela de sonhar. Ou de jogar os sonhos pela janela?

Mudo de paisagem constantemente, mas não me contento com nenhuma delas. No computador, abre-se a janela para um mundo sem fim. Um país de maravilhas que nos aprisiona angustiados como o coelho da Alice, sempre atrasado. Fecho o facebook, cansada, para finalmente enxergar a simples janela de abrir.

Da janela pra fora, desejo de liberdade. Da janela pra dentro, a história da alma.

As  janelas viram portas. Entro sem bater para ver o que há.

Observo a janela do outro, que me atiça a curiosidade. 

A vida é uma sequência de janelas e portas,  sonho e realidade.

Criar novas janelas, emoldurar outras cenas, colocar os sonhos em janelas. 

Para que essa vida, parede branca, tenha sempre novos quadros para serem contemplados.

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