quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Eles ainda estavam deitados quando ela começou a chorar calada. Ele não viu, até porque ela jamais choraria na frente dele. As lágrimas escorriam devagar e silenciosas até atingirem o travesseiro. Ela teve o cuidado de sair do peito dele antes que o choro o molhasse.

Aquela tristeza estava presa na garganta já fazia tempo. Mas naquela noite ela se viu obrigada a libertar o que estava entalado. Os sentimentos não deixaram outra saída.

Ele estava falando algo, mas ela não conseguia prestar atenção. Estava mergulhada em outros pensamentos, na culpa que estar com ele a fazia sentir.

A verdade é que estar ali era humilhante. Bastava um comando dele e ela obedecia. Bastava uma mensagem e ela saía de qualquer lugar onde estivesse para encontrá-lo. Ela chegou a confundir com amor, mas era outra coisa. A carência a fez se apegar à ele e a fez acreditar que tinham algo bonito, ou que um dia pudesse vir a ter...

- Preciso ir. Ela disse.

- Mas já? Ainda é cedo.
- Tenho reunião amanhã de manhã... - mentiu.

Ele a acompanhou até a porta do carro e deu um beijo de despedida sem nenhum sentimento. Para ela, isso era o pior, o mais triste. O que a destruía, mas sempre a fazia voltar, na esperança de que, de repente, algo pudesse mudar. Mas não mudava.

Foi para casa... Queria dormir, mas só conseguia chorar o acúmulo de dor dos últimos tempos... Encharcou o travesseiro e deixou o rímel escorrer até não sobrar mais nada.

Foi ver que horas eram no celular e só então viu uma mensagem dele. "Eu adoro estar com você, mas hoje você parecia meio distante. Tá tudo bem? Espero que sim. Se cuida, linda".

 
Não queria se cuidar. Queria que ele a cuidasse. Queria aquele cuidado que não temos como oferecer a nós mesmos.

Desligou o celular e acabou esquecendo de ver o relógio. Não chorou mais.

 
O tempo passou...
 
E sabe que, ela lembrou dele e, quer saber? Não doeu nem um pouquinho.
O tempo passou. E ele também passou junto com o tempo. Ele virou só mais um rosto,  e o coração dela ficou leve. Ele o deixava pesado demais. Ele não aguentava mais, apesar de querer. E como foi bom ele ter, finalmente, entendido que não precisava mais de carrega-lo como um fardo.

Na verdade, o coração sentiu a falta dele todo os dias, todas as noites. O vazio que ficou no lugar dele era imenso. Porém, necessário. Foi difícil ficar sem saber dele, dos seus dias, do que ele iria fazer no final de semana.


O coração sofreu com a saudade. Sofreu por mais um tempo, não ia mentir. E então, passado tudo isso, de repente ele parou de sentir. Se acostumou com a ausência dele  até que o vazio parou de incomodar.
Como tudo na vida, ele também passou. Como aquele medo de fantasmas que um dia fica para trás.

A indiferença veio como um anjo da guarda para trazer a paz que ela tanto precisava. E, graças a ela, não saber dele se tornou natural. Assim como ela não sabia se existia vida em outros planetas. Não é algo que tirava o sono dela, que perturbava...

Era só mais uma pergunta que, para ser bem sincera, ela nem fazia questão de saber...

Não saber como ele está, na verdade, não importa mais.

O que ela sabia hoje, era só dela. 

 
E ela estava bem.

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