sexta-feira, 9 de julho de 2010

Grito mudo.

Minha garganta dói.
Faz tempo que não sentia minha garganta doer assim.
Engulo levemente, a saliva atravessa o corredor escuro da extensão do pescoço em passos lentíssimos, slow motion.
Já entendi que o dia todo vai se alimentar de narrativas em silêncio. E que enfrentar um dia assim é muito difícil pra mim, porque eu sinto que um dia assim, como uma vida assim sem palavras ou sons é muito triste. Tudo parece remeter à uma atmosfera em que eu não me encontro. Me sinto um cisco sem a minha voz.
Minha garganta dói.
Faz tempo que não sentia minha garganta doer assim.
Antigamente eu tinha dores de garganta bastante frequentes, quase sempre seguidas por uma tristeza, uma melancolia. Lembro do meu pai me perguntando porque que eu tava triste. Eu tentava dizer, e ficava mais triste ainda.
Com o tempo as dores de garganta foram sumindo.
Cresci, e o ponto fraco do corpo passou a ser o nariz. Ouvi dizer outro dia que todo ser humano tem um ponto fraco no corpo, uma parte que pede socorro desesperada quando há queda de resistência.
Mas resistência à quê? ...
Dizem que a garganta é o lugar mais emotivo do corpo. Mas eu acho que nariz é bem pior, é respiração. E isso é bem mais complexo.
Minha garganta dói e eu tento cantar em silêncio.
Tento exercitar o olhar, a atenção visual pras coisas e estabelecer um diálogo verdadeiro.
Minha garganta dói.
Dizem que a garganta dói sinalizando alguma coisa que não vai muito bem com o coração.
Mas eu sinto ele batendo direitinho ali, tum tum tum...
Consigo colocar a mão do lado esquerdo e sentir o timbre dele.
Pra sentir o timbre colocando a mão do lado esquerdo do corpo é preciso que se tenha coragem.
Pode ser que se sinta um timbre que não se gosta, e isso é perigoso.
Minha garganta dói e me toma as palavras. Me deixa oca.
E num grito mudo tento ouvir o que é que ela está querendo dizer.

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