sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Enquanto isso a roda gigante gira...

Eu sei que a vida não se resume a festivais.
E que o Brasil caminha para frente a passos largos, e essa é uma constatação que até eu que sou mais boba já fiz.
No Brasil de 2010, um festival de rock que tenta ser um Woodstock e o faz sob os discursos da sustentabilidade(não do planeta, mas do Sr. Maeda, o milionário proprietário da fazenda que abrigou o evento).
Mas enfim, o SWU trouxe em sua embalagem um mundo de materiais recicláveis, banhos de sete minutos... bem, é um imaginário realmente utópico e fascinante, e não há de causar nenhum mal a uma juventude em que não há nunhum cara pintada nessa “demo”cracia nojenta que a gente vive...
Mas estou aqui pra falar da minha experiência pessoal de SWU. Estive lá, e na minha mente confrontei o SWU com o Woodstock que nunca conheci, e, também, com o filme "Aconteceu em Woodstock", do cineasta Ang Lee, que me fez quase morrer de nostalgia pelo que não vivi. E, tenho de confessar, na maior parte do tempo me senti mais longe do que nunca do Woodstock.
De volta ao começo: O Brasil avança em passos firmes rumo ao futuro, mas por isso mesmo é preciso estar atento. É preciso reconhecer os progressos e reconhecer também os retrocessos que procuram puxar os pés dos progressos da superfície para os subterrâneos. É preciso tentar (pelo menos tentar) separar o que é novo do que é slogan, marketing, disfarce, fundamentalismo....
Hoje lí um artigo em que a autora de forma brilhante chamava a atenção da forma com que o SWU mostrou as contradições de quem vê sustentabilidade como oportunidade de marketing.
E achei engraçado que à beira da decisão do 2º turno das eleições, pouco ou nada se falou sobre política, não vi camisetas nem de Dilma, nem de Serra, nem de voto nulo e nem de porra nenhuma. Nem mesmo da verdejante Marina Silva.
E o rock'n'roll, se tomarmos como parâmetro a escalação ideológica do SWU passa longe, mas bem longe do Woodstock...
Foi-se o tempo em que Jimi Hendrix, se despedia do rock e da vida lambendo as guitarras do Woodstock.
O "ecopopcapitalismo" autosustentável ensaia um novo discurso, mas no backstage (e até mesmo sob os holofotes) flerta, namora e transa com o velho status quo de sempre - aquele que clama que bolsa família é esmola assistencialista, que cotas universitárias para negros são racismo ao contrário, que a mulher presidenciável é a reencarnação abortiva do demônio...
É interessante olhar que entre as estrelas do SWU, houve cotas mínimas para negros (BNegão - quem mais?), mulheres (Joss Stone), nordestinos (Mombojó), idosos (Mutantes)...
Existe algo mais selvagemente capitalista que um festival feito por e para quem sempre esteve no comando, nós, a elite? Pq qm esteve lá os 3 dias como eu, desembolsou no mínimo mil reais, ou seja uns dois salários mínimos só pra curtir um rock no feriadão!
O que significa o verde Marina (mulher, negra, nortista, evangélica), diante de tanto hambúrguer, tanta latinha, tanto copo de plástico, tanta "very important people"...
No camping premium, as mulheres tinham uns oito chuveiros, dos quais uns quatro funcionavam. E o mais engraçado era umas patizinhas dando chilique porque os 7 minutos de água caindo não foram suficientes para tirar o shampoo do cabelo...
E enquanto isso a roda gigante girava...
Sob graus maiores ou menores de pragmatismo, é preciso voltar ao ponto de início: pode até parecer que não, mas temos avançado, crescido e amadurecido, sim, a passos fortes. Se você chegou até o último parágrafo deste texto, mesmo depois de se rebelar contra a chatice desse discurso "politicamente correto pronegro/ mulher/ homossexual/nordestino/ sem-teto/sem-terra.
Conclusão, uma nação que se ama e se respeita é a construção de um festival de indivíduos que se (auto)amam, se (auto)respeitam, e se (auto)sustentam começa por nós mesmos.
Ou, como disse o BNegão, você é parecido com aquilo que critica.
Pronto falei!

foto feita por um grande amigo meu, André Leite (vulgo parma).

2 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Concordo com as críticas. O festival foi uma hipocrisia só. Mas minha amiga, falar é fácil depois de curtir o festival todo. E eu sei que você, nós todas curtimos. Portanto, se não apoia não volte mais. Porque é assim que a gente demostra nossa posição frente ao mundo. Eu passei ótimos momentos lá, mas no primeiro dia percebi a máquina de produzir lixo que era aquele lugar. O lixo não cabia nem dentro da lata de lixo . Woodstock não vai se repetir nunca mais. Apesar de tudo que aquele festival representou muita gente morreu de overdose naquela "usança" toda de droga. Era moda na época. Com ela se foram muitos talentos brilhantes. Então, se não chegou nem aos pés de Woodstock, pelo menos foi por um motivo saudável . Não que eu não tenha vontade de ter participado desse festival, não me entenda errado, mas acho que a nossa geração ( se sair dessa estagnação geral) pode muito mais...
Pequena