terça-feira, 7 de dezembro de 2010

e foi assim que eu fugi de você pela última vez...

E foi aí que eu redescobri as cartas à moda antiga e passei a te escrever porque eu ainda tinha umas coisas pra te falar, umas dúvidas pra resolver e umas dores para expulsar de mim.
Minhas cartas eram grandes, eram abstratas, eram complicadas e pra falar a verdade eram até desnecessárias, mas eu precisava.
Depois de pensamentos inacabados e folhas rasuradas você me descobriu sentadinha no café 3 corações.
Não entendi de onde saia aquele seu sorriso transparecendo tanta felicidade, ninguém pode fingir tão bem assim, era mesmo felicidade e eu só queria que você caísse morto por estar tão feliz enquanto eu perdia minhas noites escrevendo esses sentimentos entreabertos.
Enquanto achava um motivo pra não te encarar, perguntava se você tava bem, dobrava o jornal, acendia um cigarro, tudo ao mesmo tempo, via você organizando suas coisas e pedindo seu pão de queijo com aquela naturalidade de sempre.
Olhei pro chão e vi o tênis que eu te dei e que você dizia gostar tanto e quando percebi que não era o mesmo cadarço quase morri de ciúme e quis saber, quem havia trocado a porra do cadarço, no mesmo instante em que eu pensava nisso, você perguntava se eu gostava do seu novo cadarço e como eu ia fingir que ainda não tinha percebido eles ali, disse que eram bonitos e você respondeu que havia acabado de comprar.
Alívio, em saber que pelo menos ninguém tinha mexido no presente de aniversário que eu te dei.
E como um banho quente aquilo tudo me confortou e me veio a idéia de que talvez ninguém mais tivesse estado com vc depois de mim e eu realmente quis que fosse assim, ah, eu queria que a última imagem que você tivesse de mim fosse a daquela noite em que brigamos, mas rimos muito mais que brigamos. E eu percebi que como sempre havia desviado toda a minha atenção do que ocorria e voltei a te olhar, mas já não tinha mais nada pra falar e me perguntava se um dia eu te entregaria aquelas cartas, e o q vc pensaria ao ler aquilo tudo... mas eu não queria assumir minha fraqueza em não conseguir te deixar ir. Ai paguei minha conta, disse que gostaria de te encontrar mais vezes, mesmo sabendo que queria na verdade que você desaparecesse da minha vida e saí andando e rindo porque se eu não risse, você sabe, eu ia chorar, o que não podia mais acontecer, era um novo trato comigo mesma, então eu ia rindo e foi assim que fugi de você pela última vez querendo, na verdade, correr para a sua casa e me esconder embaixo da sua cama.

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