sexta-feira, 17 de setembro de 2010

"Eu podia estar matando, estar roubando..."

Eu nunca fui assaltada e acho que sou uma das poucas pessoas que tem a sorte de dizer isso. Até pq se tem uma coisa que meu anjo da guarda não pode se dar ao luxo é de ser preguiçoso, acho que ele faz hora extra, sem férias, gratificação e adicional de fds.
É, eu posso dizer que tenho sete vidas pq já escapei de cada uma q até Deus duvida viu...
Mas pensando bem, às vezes eu me sinto assaltada quando vou a padaria por exemplo, e querem que eu pague por um produto muito mais do que ele vale, mas não quero falar disso, aliás nem tenho embasamento para falar sobre isso, economia não é lá meu ponto forte, não mesmo.
O fato é que tem acontecido com freqüência a seguinte situação: eu saio de casa com a bolsa cheia de moedinhas, sou abordada por um menino, mulher-com filhos despencando por todos os lados, velho, bêbado e gente que sofre de aids, lepra, câncer, mau hálito, unha encravada que pedem minhas moedinhas, resultando na volta para casa com a bolsa vazia.
Ah nem viu, assalto pelo menos não acontece cinco vezes no mesmo dia, abordagem de pedinte sim. Gente, vou precisar pedir um aumento se continuar dando esmolas desse jeito! Sérião!
Existe sempre a opção não dar esmolas; e eu entendo que alguém que pede alguma coisa, ao receber vai continuar pedindo, principalmente se é conseguido com facilidade, mas é que eu preciso colocar meu coração no freezer de tempos em tempos se não derrete... Eu não consigo nem dormir em paz sabendo que eu não fiz a minha parte. E olha que as minhas singelas moedinhas não significam a redenção da minha consciência. Eu sempre penso que as pessoas poderiam ter uma vida menos cruel, se alguém fizesse por elas bem mais que lhes dar dinheiro.
Então sabendo que eu não tenho vocação para mártir e tão pouco para heróina, salvando o mundo com as minhas moedas mágicas infinitas, resolvi que eu não daria mais esmolas. E foi assim por um tempo até que em um belo dia, estava eu no centro da cidade,quando um menino de uns 7 anos de idade mais ou menos, descalço, de roupas sujas que só não estavam mais sujas do que ele próprio, diz "tia me dá um dinheiro!", ríspido, como se fosse um dinheiro que eu tivesse tomado dele ou fizesse mais do que minha obrigação em dar. A princípio eu fiquei irritada. Tia (meu irmão teve um filho por ai e eu ñ fiquei sabendo, é isso???) E quem era ele pra falar daquele jeito comigo? Mas depois, olhei para aquela carinha toda sujinha...
Era só um menino, ele não escolheu aquela vida para ele, devia estar na escola, brincando, sendo criança e não problema social...
eu engoli seco.
Ai eu não lhe dei dinheiro, eu lhe paguei um suco e um pastel, não era o que ele queria, deixou isso bem claro quando nem me agradeceu e sumiu no meio da multidão sem se despedir. Tudo bem, eu não esperava mesmo por gratidão, é a tal história de "fazer o bem sem olhar a quem" e eu sempre soube que bancar a boa samaritana não era lá muito fácil...mas não ter dinheiro não deveria significar não ter educação né?
Então era assim que seria, eu não daria mais dinheiro algum a ninguém, afinal de contas a gente ajuda como pode, e quando pode....que não foi o caso de uma semana depois, quando passou por mim um homem que empurrava um carrinho com um bebê de uns 2 anos e pelas roupas dava pra notar que viviam nas ruas. O homem só me olhou, mas não me dirigiu a palavra, então eu pensei em quase correr dali com medo do meu coração pingar, quando o bebê fala com o pai "eu quero leite pai!". Foi ato reflexo, enquanto tentava não escorregar no meu próprio coração que se liquefez no chão, enfiei a mão na bolsa, tirei de lá uns três reais e dei pro homem sem que ele pedisse. Não foi um bom exemplo de como cumprir promessas, e sabe se lá se o moleque não era treinado para pegar trouxas sentimentalóides, e com o dinheiro que ganhavam já tinham uma vaca no quintal de uma bela casa comprada as custas dos três reais dos outros.
A trouxa aqui se encaminha para o estacionamento e se lembra que para tirar o carro era preciso de exatos TRÊS REAIS. É claro que "aquele dinheiro todo" não estaria dando sopa assim na minha carteira sem motivo, era o dinheiro separado para aquele fim (bate a mão na testa - prêmio maior tonta do mundo para mim!). O dono do estacionamento não tinha cara de muito caridoso, eu não tinha um bebê "adestrado" que pudesse dizer "mamãe quero estacionamento grátis!" e achei que levantar a blusa e mostrar os peitos não fosse uma boa opção. Ai eu saí em busca das moedinhas soltas nas bolsas (a minha é sempre do tipo grande e a vantagem é que você encontra coisas que nunca imaginaria que tinha). Arrecadei o dinheiro exato em moedas de dez e cinco centavos, o que significou final feliz para todos: criança com leite, dono de estacionamento com bastante moeda para troco e eu voltei pra casa sem um puto na bolsa!

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