domingo, 12 de setembro de 2010

Os Kms de distância é que marcam o tempo justo das coisas?

Ela colecionava amores efêmeros como quem coleciona livros.
Assim, os mais raros e os mais distantes.
Amores curtos, longos de verão sabe?
Amores suados, inundados de palavras ocas...
Amores de onde se enxerga o ponto em que termina. Mas ainda assim, amores.
Ela começara cedo, e por isso sabia desde sempre que o amor se fazia na impossibilidade de sua permanência. E que justamente por isso, amores com prazo de validade conseguiam ser mais potentes.
Não se economizava sentimento, não se economizada vida. Era amor devorado como as páginas amarelas lidas em silêncio.
E ela seguia o rumo sendo assim. Se apaixonava justamente por quem morava longe de casa. Quanto mais longe, mais amava.
E começava estando perto, muito perto, e desse tão perto não se fingia nem dispensava. Havia de se viver tudo com a máxima intensidade, era declarado o dia em que tudo terminaria.
Então vivia, vivia, vivia, as emoções escancaradas... Não havia porque fingir que não.
Como quem coleciona livros roubados, vivia amores das mais diversas localidades. Argentina, Hawaii, Califórnia, Cuba, Panamá, Israel, Uruguai, Bahia, Brasília... Um amor em cada rio, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro... Os Kms de distância marcavam o tempo justo das coisas. Era sabendo-se distante que se fazia mais sincero. E mais puro.
Um dia chegaria a data de validade. Dia de devolver o livro na biblioteca. Dia de comprar a passagem de volta.
É claro que se poderia tentar forjar a data do fim. Esconder o livro dentro da blusa, queimar as malas, perder a passagem... Ainda assim, não haveria remédio. Existia um prazo de validade.
Não há amor que sobreviva ao amor.
Voltava pra casa então.
Passos lentos cheios de lágrimas.
Todas as lágrimas do mundo de todas as nacionalidades e de todas as cores.
Ela voltava pra casa sozinha outra vez.
E o coração ia junto, escorrendo pelos olhos.

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